Da cidade do Porto chega-nos o impactante álbum de
estreia do quarteto FERE. Lançado
hoje mesmo em formato de CD através do influente selo discográfico português Raging Planet e em formato digital disponível
para download através da página oficial
de Bandcamp da banda, ‘Montedor’
sustenta e ostenta uma intrigante, melancólica e angustiante ambiência sonora –
climatizada por uma estranha veia experimental – que se agiganta de um soturno,
hipnótico e contemplativo Post-Rock até
aos domínios de um poderoso, obscuro, tirânico e assombroso Doom que nos envolve, enluta e fascina.
A sua musicalidade essencialmente misantrópica – criadora de uma atmosfera lúgubre, opressiva
e tenebrosa – tem o dom de nos selar as pálpebras, tombar o semblante de encontro
ao peito e atestar a alma de uma enigmática nebulosidade que nos embacia a
lucidez e narcotiza os sentidos. Na génese de toda esta jornada outonal pelas
frias, pardacentas, brumosas e sombrias paisagens sonoras de ‘Montedor’
está uma guitarra taciturna de acordes comoventes, plácidos e inflamantes, intensamente
sombreada e intimidada pela cáustica e monolítica reverberação exalada de dois
baixos carrancudos detidamente entregues a linhas sussurrantes, vigorosas e
marcantes, e ainda esporeada por uma bateria trovejante de investidas explosivas,
dinâmicas e ecoantes. Este é um álbum detentor de uma sinistra e funesta obscuridade
que deve experienciado na penumbra. Chego ao final desta promissora obra de FERE profundamente soterrado num firme estádio
de prostração e de alma eclipsada pelo lado mais negro e desalentado da
existência humana. ’Montedor’ é um álbum tristemente belo onde a esperança não
subsiste. Um disco contador de uma absorvente e fatídica narrativa que nos respira
e sepulta num inabalável estado de penetrante reflexão. Bronzeiem-se no seu
negrume e testemunhem toda a essência de um dos mais marcantes álbuns de origem
portuguesa lançados até ao momento em 2018.
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