É justo começar por dizer
que este era muito provavelmente o álbum mais aguardado de 2018. Não só pelo
regresso aos palcos (e aqui é-me importante lembrar toda aquela brumosa eucaristia
Sleep’eana dada no saudoso festival Reverence Valada em 2015) de uma
das mais míticas e aclamadas formações do panorama underground, mas essencialmente porque ‘The Sciences’ simboliza
o tão ansiado término de um longo e mudo jejum de 15 anos que se seguira após o
lançamento da irretocável obra-prima ‘Dopesmoker’ (2003), e surge agora com a
ousada – mas bem-sucedida – missão de alimentar e saciar todo um crescente e ardente desejo
que inquietara a numerosa legião de seguidores que os titânicos Sleep se orgulham de ter nas suas
fileiras.
Lançado no passado dia 20 de Abril (numa clara e propositada referência ao místico número 420), ‘The Science’ fora anunciado publicamente a pouquíssimas horas do seu nascimento oficial, o que provocara uma completa e repentina histeria que tomara de assalto todos aqueles que – tal como eu – reverenciam de forma plena e incondicional esta histórica banda sediada na Califórnia. Promovido pelo conhecido selo discográfico norte-americano Third Man Records e convertido nos formatos físicos de CD e vinil, este novo álbum de Sleep escuda-se num nebuloso, meditativo, xamânico e poderoso Psych Doom que nos intriga, estremece e narcotiza com a sua granítica robustez, lamacenta densidade e ofuscante nebulosidade de propriedades altamente psicotrópicas. A sua sonoridade verdadeiramente hipnótica, messiânica, transcendental e tirânica – canalizadora de um transe de índole religioso e terapêutico que irriga todas as artérias da nossa alma e nos levita a um imperturbável estádio de êxtase – conta ainda com uma discreta radiância OM’esca de textura arábica e mântrica que climatiza e eteriza parte da ambiência sidérica de ‘The Sciences’. Sintam-se desprender das amarras gravitacionais e propulsionar na vertiginosa direcção dos mais idosos, remotos e secretos astros ancorados nas insondáveis fronteiras da infinidade espacial, mergulhando na intimidade de poeirentas, coloridas, espessas e majestosas nebulosas que perfumam e tingem o negrume cósmico. Matt Pike – de guitarra empunhada e postura tirânica – disfere monolíticos, obscuros, pesados e morfínicos riffs que se desconstroem e dissolvem em solos gélidos, alucinógenos e delirantes. Al Cisneros – de baixo firme, postura profética e voz magnetizante, monocórdica e liderante – lança-nos toda uma corpulenta, tensa e esfíngica reverberação de onde se decifram linhas massivas, viris, oscilantes e criativas. Jason Roeder – nas rédeas da bateria – explode em constantes, redentoras e empolgantes ofensivas que esporeiam e incendeiam toda esta caravana sonora que se distende numa envolvente expedição pelos desertos alienígenas. Deixem-se arrasar por toda esta prepotente avalanche de endorfinas que varre tudo e todos no seu caminho, submerjam num profundo oceano atestado de THC (tetra-hidrocanabinol) e sintam-se pisar e colonizar todos os domínios de um Cosmos rendido ao soberano poderio de Sleep. Não será nada fácil regressar à lúcida superfície desta profunda e demorada narcose que nos soterrara e aprisionara do primeiro ao derradeiro tema. Comunguem este renovado capítulo bíblico superiormente rezado por estes três druidas e convertam-se em devotos discípulos no elogio e disseminação da doutrina canabinoide ao longo de toda esta consagrada, épica e maravilhada odisseia pelos deslumbrantes horizontes de ‘The Sciences’. Tudo em mim já gritava por um álbum assim. Absorvam-se nele.
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