O talentoso e inspirador músico
tuaregue Bombino acaba de lançar o
seu sexto álbum ‘Deran’ pela mão do selo discográfico independente Partisan Records nos formatos físicos
de CD e vinil. Sou um velho entusiasta deste aclamado sultão natural da cidade africana
de Agadèz (اغادیز) localizada no coração da República do
Níger e tê-lo vivenciado em palco no já distante ano de 2012 (review aqui) só intensificara
toda a admiração que por ele nutro. Este fascinante nómada de guitarra
empunhada, olhar selado, pé calejado, véu índigo e pele tisnada concebe e floresce
um ardente, hipnotizante, tribalístico e imensamente contagiante Desert Blues – de soberbas e indiscretas
aproximações rítmicas à música Reggae
e Funk – que nos intriga, instiga e
obriga a dançá-lo de forma detida, extrovertida e extravagantemente. A sua
sonoridade de envolvência sagrada – padronizada por um encantador etnicismo e de
tonalidade sépia – leva-nos a sobrevoar todo um cintilante e bronzeado tapete
desértico, dos mais altos minaretes das mesquitas aos distensíveis mares
arenosos de dunas ondulantes, aveludadas, ruborizadas e fervilhantes que se
desdobram e espreguiçam pelo firmamento adentro. ‘Deran’ representa o sexto
e novo capítulo desta deslumbrante digressão messiânica – debaixo de um Sol vigilante,
corado e de bafo quente – que facilmente converterá em seu apóstolo quem na sua
doutrina sonora comungar. Desmaiem as pálpebras, pendulem o corpo e enlevem a
alma ao edénico e redentor som de uma guitarra endeusada e xamânica que com os
seus acordes líricos, místicos e ostentosos, assim como com os seus solos
serpenteantes, adoráveis, sublimes e alucinantes nos inebria e afogueia de
prazer, uma voz crua, destemperada e liderante que – apoiado e em comunhão com outras tantas
– vocaliza e simboliza toda uma invencível rebelião, um baixo de sussurros
reverberantes – orientado a linhas pulsantes, sombreadas, dinâmicas e bailantes
– que se passeia e mareia numa harmoniosa e ostentosa manifestação, uma
percussão mexida, abrasadora e verdadeiramente provocante – guarnecida e conduzida
a uma ritmicidade emotiva, erótica e magnetizante – que incentiva e vivifica
todo o álbum. ‘Deran’ é um álbum de natureza empolgante – tocado e cantado em
dialeto tuaregue – que nos atiça e agita do primeiro ao derradeiro tema. Um
verdadeiro oásis espiritual de absorção auditiva. Embrenhem-se e perfumem-se na
sua religiosa, ataráxica e donairosa majestosidade de ‘Deran’ e experienciem
com plena veneração, entrega e comoção um dos mais incontornáveis, afáveis e
maravilhosos discos de 2018. Dancem-no até à exaustão.
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