Da vizinha Espanha chega-nos ‘ValdeInfierno’, o novo e
admirável EP de Atavismo lançado no final do passado mês de Julho sob a forma
física de CD e vinil pela mão do selo discográfico germânico Adansonia Records. Sediada na tropical região
sulista da Andaluzia, esta fascinante
formação espanhola presenteia o ouvinte com um adorável sortido de sonoridades de onde
facilmente se apalada um deslindado, caloroso, harmonioso e requintado Psych Rock de natureza oriental e revivalista,
um serpenteante, aromático, carismático e extravagante Prog Rock fielmente traduzido dos 70’s, e ainda um relaxante, místico,
ataráxico e envolvente Krautrock
levemente influenciado por um afável Folk
sessentista de idioma castelhano, tonalidade
cintilante e clima primaveril. Todos estes distintos elementos musicais são temperados
e combinados por uma exótica veia experimental que nos prende e nutre a atenção
do primeiro ao derradeiro tema. São cerca de 27 minutos aureolados por uma enfeitiçante
ambiência arábica que nos tomba as pálpebras, curva a linha labial, adorna a
espiritualidade e instiga a dançá-la de forma exuberante, detida e apaixonada.
Uma ofuscante sublimação de contornos religiosos resplandecida e conduzida por
uma guitarra messiânica que desfila sumptuosos, contemplativos, esfíngicos e
maravilhosos acordes, e desprende miríficos e arrebatadores solos de desarmante
beleza, um imponente baixo de bafagem reverberante, fibrótica, fluída e oscilante,
uma bateria deliciosamente multifacetada que se manifesta em criativas,
encantadoras e delicadas acrobacias rítmicas, um quimérico sintetizador de
perfumados e mágicos bailados, e ainda uma voz liderante que capitaneia toda
esta sagrada peregrinação pelos áridos oceanos de um deserto iluminado e canonizado
pelo deus Sol. De destacar ainda o vistoso e impressivo artwork superiormente pensado, delineado e colorido pelo artista
hispânico António Ramírez que vertera
para o domínio visual tudo o que de mais louvado e fundamental a sonoridade de Atavismo sugere. ‘ValdeInfierno’ é um EP recheado de um misticismo
transbordante que não deixará indiferente quem nele atracar a sua alma. Um
registo de propriedades terapêuticas que nos absorve e conserva num imaculado estádio
de hipnose. Empoeirem-se e bronzeiem-se na esplendorosa religiosidade de um dos
mais sérios candidatos apontados ao tão prestigiado título de EP do ano.
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