Da grande e populosa cidade
de Denver (capital do estado
norte-americano do Colorado)
chega-nos o tumultuoso, denso e pantanoso negrume do quarteto Matriarch com o lançamento do seu novo EP ‘Constructs of Time’ no formato físico
de vinil (numa prensagem ultra-limitada a apenas 100 cópias existentes).
Baseado num vultoso, tirânico, massivo e poderoso Doom Metal em parceria com um nebuloso, lodacento, possante e
revoltoso Sludge Metal, um
angustiante, melancólico, erosivo e tristemente belo Post-Metal e ainda uma intrigante, psicotrópico, grotesco e
magnetizante vertente Noise norteada por um singular
experimentalismo que governa toda a segunda metade do EP, este catatónico, impactante e morfínico registo de Matriarch soterra-nos num profundo
estádio de paralisia e prostração que nos sufoca e oprime do primeiro ao último
minuto. ‘Constructs of Time’ segreda-nos toda uma lúgubre e envolvente narrativa
bordada a misantropia e tingida a colorações outonais que nos desmaia as
pálpebras, tomba o semblante de encontro ao peito e enluta a alma. Uma pesada,
fúnebre e arrastada digressão por paisagens devastadas, órfãs de esperança e
totalmente entregues a uma progressiva decomposição que há muito as enferrujara
e mortificara. Sintam-se naufragar neste turbulento oceano de melancolia ao som
de duas guitarras imponentes que se hasteiam em riffs maciços, vigorosos, absorventes e tenebrosos, e solos
penetrantes, translúcidos e rutilantes que esgrimam e golpeiam a tensa, densa e negra
nebulosidade, um potente baixo de bafagem vibrante, carregada, torneada e
pulsante que nos agride e estremece, uma bateria explosiva de ritmicidade
compassada, pesada, inflexível e musculada, e ainda uma voz violenta, cavernosa
e gutural que se desenterra dos mais profundos abismos para eclodir nos funestos
céus de ‘Constructs of Time’. Este é um EP assombroso que nos respira e amortalha num estado febril. Uma
obra de natureza amaldiçoada que nos guia pelos inóspitos trilhos do
obscurantismo, crava as trevas na alma e abandona no lado mais eclipsado da
existência humana. Não é nada fácil regressar à tona deste majestoso trabalho
de Matriarch que desde o primeiro
segundo nos arrasta de encontro às suas vertiginosas funduras. Um dos títulos mais
perturbadores lançados em 2018 está aqui, na demoníaca essência do piramidal ‘Constructs
of Time’. Enlameiem-se e distorçam-se nele.
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