Da cidade francesa de Tours chega-nos a mélica e edénica fragância
do jovem power-trio Birdstone com a apresentação do seu
incrível álbum de estreia intitulado de ‘Seer’. Lançado hoje mesmo sob a
forma digital (via Bandcamp) e nos
formatos físicos de CD e vinil (via Bigcartel),
este seu primeiro trabalho de longa duração encerra um poderoso, místico, ritualístico
e ostentoso Heavy Blues de alma
revivalista que me dilatara as pupilas e desenhara um incontrariável sorriso no
rosto. Sendo eu um intratável apaixonado por esta tão carismática casta do
saudoso e espirituoso Blues, não
poderia passar por ‘Seed’ sem que o mesmo me agarrasse pelos colarinhos e cortejasse
de forma exuberante. A sua sonoridade harmoniosa, doce, requintada e sedosa –
tricotada a uma delicadeza e destreza verdadeiramente enternecedoras – tem o
dom de nos inebriar e sublimar com a sua loquacidade sonora. De ouvidos a
salivar e alma estacionada num imperturbável estádio de bem-estar, somos
passeados e acariciados pelas suas baladas que alternam entre a gentileza e a
rudeza, a tranquilidade e o frenesim, o brando e o vigoroso, sem nunca perder a
majestosa elegância que norteia e incendeia todo o álbum. São cerca de 44
minutos climatizados e aureolados por uma atraente radiância capaz de persuadir
e conquistar o mais frio dos ouvintes. Percam-se na desarmante extravagância
exalada por uma guitarra erótica que se enfatiza e envaidece com os seus airosos,
dançantes, revigorantes e prazerosos riffs
de onde florescem fogosos, deslumbrantes, penetrantes e virtuosos solos,
balanceiem o vosso corpo temulento ao ritmo de um magnetizante baixo desenhado
e conduzido a linhas influentes, torneadas, onduladas e salientes, destravem a
cabeça na empolgante e atordoante perseguição a uma talentosa bateria
locomovida a inventivas, dinâmicas, altivas e desembaraçadas acrobacias, e
comovam-se com uma charmosa, melificada, lubrificada e portentosa voz que vos perturbará
e namorará do primeiro ao derradeiro tema. De destacar e louvar ainda o luxuoso
artwork – caprichosamente detalhado pelo
afamado duo parisiense Vaderetro –
que empresta a esta obra-prima toda uma distinta primazia visual onde o nosso
olhar se debruça e deleita. ‘Seer’ é um álbum inteiramente pensado
e orquestrado à minha imagem. Um registo desmesuradamente epopeico que me envolvera
e intrigara sem a mais pequena moderação. Regresso dele completamente embebido
na sua contagiante sumptuosidade e rendido à sua absoluta qualidade. Muito
provavelmente o meu álbum favorito hasteado até ao momento ainda curto, mas já muito
frutífero ano de 2019. Banhem-se na copiosa grandiosidade transpirada por Birdstone, e testemunhem detida e
apaixonadamente esta surpreendente estreia deste recente, mas muito promissor tridente
de origem francesa.
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