Depois de em 2017 terem
apresentado o seu agradável álbum de estreia (devidamente desconstruído e aclamado aqui),
os espanhóis Sageness regressam
agora com o seu incrível sucessor apelidado de ‘Akmé’. Lançado muito
recentemente sob a forma física de CD (numa estética edição autoral, ultra-reduzida
à prensagem de apenas 100 cópias disponíveis) através da sua página de Bandcamp oficial, este novo álbum da
formação leonesa sediada na cidade de León
encerra um atraente, ensolarado e deslumbrante Psych Rock de mãos dadas com um tântrico, contemplativo e cinematográfico
Post-Rock que se desenvolvem para um
fogoso, enérgico e vigoroso Heavy Psych
de propensão estelar. A sua sonoridade de receita instrumental – atestada de um
intoxicante misticismo – tem o dom de nos transcender numa fabulosa e evolutiva
odisseia espacial, driblando o abraço gravitacional dos astros e içando a nossa
consciência ao sabor dos ventos que nos velejam na vertiginosa direcção de um
firmamento desdobrado pela infinidade adentro. Recostem-se confortavelmente, respirem
pausada e profundamente, selem o olhar e balanceiem o vosso corpo enfeitiçado à
envolvente e extasiante boleia de uma guitarra profética que se esperneia em contagiantes,
adoráveis, afáveis e fascinantes riffs,
e vomita borbulhantes, psicotrópicos, hipnóticos e delirantes solos, um baixo
murmurante, ondulado e pulsante de linhas movidas a robustez e fluidez, e uma
bateria soberbamente expressiva que com um toque cintilante, polido e ligeiro tiquetaqueia
e esporeia toda esta majestosa digressão pelo quimérico universo de ‘Akmé’.
E se é com uma pronta facilidade que nos deixamos dissolver e enternecer na apaixonante
musicalidade deste álbum, é com igual naturalidade que os nossos olhos se
deixam maravilhar e deleitar com o magnânimo artwork exemplarmente reflectido e lavrado pelo talentoso ilustrador
português Diogo Soares, mergulhando no
seu cósmico e geométrico portal de natureza espiritual e naufragando pelo negro e pacífico oceano
sideral que o mesmo ostenta. Este é um álbum desenhado a lubricidade que nos faroliza, cega e
eteriza com a sua intensa luminosidade. Embrenhem-se na sublimada liturgia
celestial superiormente rezada e liderada por Sageness e caminhem livremente pelas suas imensas paisagens sonoras
de beleza e requinte a perder de vista. Este é seguramente um dos meus registos
favoritos nascidos no presente ano, e que aponta a uma posição de grande
destaque na listagem final dos melhores álbuns de 2019.
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