Da cidade de Austin (capital do estado
norte-americano do Texas) chega-nos ‘Field
Of Ruin’, o novo álbum do tridente Communion
e um dos registos por mim mais aguardados do ano. Esta formação texana – constituída
em 2011 e integrada por ex-membros de outras bandas da região, como é o caso dos
influentes Sweat Lodge (devidamente reverenciada
aqui e premiada aqui) – entrincheira-se no lado mais fúnebre e depressivo
da música Doom, provocando em mim um
reconfortante estádio de total fascínio e assombração que de forma súbita me
invadira no preciso momento da sua primeira audição. Lançado muito recentemente
pelo selo discográfico local Somatic
em formato físico de cassete, este ‘Field Of Ruin’ hasteia e ostenta toda
uma sonoridade distópica que alterna entre um pujante, abissal, tenso e inflamante
Funeral Doom de intenso e voraz negrume,
e um envolvente, outonal, lúgubre e melancólico Drone, criador e narrador de paisagens tristemente belas. De cabeça
pesada e tombada sobre o peito, olhar vendado e eclipsado, e alma narcotizada e
encarcerada num perfeito estado de prostração, somos hipnotizados, atormentados
e arrastados pela pardacenta e lamacenta musicalidade de Communion pela atmosfera devastada, silenciosa, solitária e enlutada
que a mesma encerra. ‘Field Of Ruin’ é um impactante álbum
de natureza profana, trágica e lacrimosa – movido a um portentoso vigor,
nutrido a um febril desalento e revestido por um negro e espesso manto – que nos
soterra nas profundas trevas da espiritualidade. Deixem-se absorver, atordoar e
entristecer por uma guitarra lamuriosa que tanto se manifesta numa tirânica,
tensa, violenta e misantrópica exasperação, como se aquieta em pausados, contemplativos, lenitivos e sublimes acordes tecidos a um lisérgico e subtil requinte, um baixo magnetizante
de bafagem volumosa, reverberante, densa e poderosa que sombreia e tonifica
toda esta morfínica e monolítica avalanche sonora, uma bateria explosiva,
violenta e ostensiva que nos esporeia e bombardeia de adrenalina, e uma voz atemorizante,
cavernosa, escarpada, ácida e acutilante que rasga e afogueia as vestes deste álbum
verdadeiramente colossal. Chego ao final do último tema completamente abalado e
nebulizado pela saturada veemência e desarmante plangência que governam a nefasta
essência de ‘Field Of Ruin’. Não será nada fácil emergir dos escombros que cimentam
este cataclismo e recuperar a lucidez e o alento sufocados pelo despótico poder
de Communion. Um dos meus álbuns favoritos
do presente ano de 2019 está aqui, na fatídica, niilística e caliginosa alma de
‘Field
Of Ruin’. Desbotem-se nele.
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