Devo confessar que para lá
do álbum de estreia ‘Papir’ (via Red Tape,
2010) e do registo que perseguira o homónimo ‘Stundum’ (via El Paraiso Records, 2011) não mais
consegui retirar dos seguintes álbuns de Papir
o grande fascínio que a minha expectativa deles esperava exteriorizar. Ainda
assim, foi de alma deslumbrada e olhar firmemente ancorado no palco do saudoso festival
ribatejano Reverence Valada que no
verão de 2016 experienciara ao vivo pela primeira e – até ao momento – única
vez este adorável trio dinamarquês (review
aqui). Mas hoje o meu entusiasmo apontado a Papir – depois de uma longa hibernação – acaba de despertar e reacender-se,
e o único culpado dessa proeza intitula-se de ‘VI’. Tal como o nome
sugere, ‘VI’ simboliza o sexto álbum de estúdio produzido por esta consumada
formação nórdica localizada na cidade-capital de Copenhaga, e tem o seu lançamento integral e oficial agendado para
o dia de amanhã (sexta-feira, 10 de Maio) pela mão da editora germânica Stickman Records (casa discográfica de prestigiadas
referências como Elder, Motorpsycho, Weedpecker e King Buffalo)
sob a forma física de CD e vinil. E se na primeira impressão retirada de ‘VI’
é-nos fácil reconhecer e apaladar um relaxante, edénico, bucólico e apaixonante
Psych Rock de orientação e
sensibilidade jazzística (a fazer
lembrar Colour Haze, Causa Sui e Yawning Man), a fluída viagem sonora de Papir transporta-nos seguidamente para os místicos domínios de um magnetizante, lenitivo
e deslumbrante Krautrock que muito subtilmente evolui
para um dançante, robusto e empolgante Heavy
Prog capaz de pôr à prova a firmeza da nossa sanidade mental. Bordada por
repetitivas estruturas instrumentais que se amontoam e organizam entre si –
criando uma rendilhada tapestria de hipnótica e delirante beleza – a sublime e
sedutora musicalidade de ‘VI’ pendula-nos entre uma contemplativa
e inebriante serenidade climatizada pela inércia e uma euforizante vertigem que
nos embala num labiríntico vórtice. Uma onírica viagem de condução progressiva que
nos envolve, ofusca e revolve. Deixem-se dissolver e embevecer nos enfeitiçantes
acordes e ziguezagueantes solos tecidos por uma guitarra movimentada a uma
simetria e polifonia verdadeiramente admiráveis, um baixo pulsante de linhas
desenhadas a robustez, vivacidade e fluidez, uma bateria criativa e sofisticada
de toque cintilante, requintado e chamejante que esculpe e lapida todas as
digressões da guitarra, e um mágico sintetizador de misticismo ecoante e transbordante
que confere a ‘VI’ toda uma endeusada aura celestial. Este é um álbum de
natureza viajante e cinematográfica que arremessa o comum mortal para fora da sua órbita
consciencial. Deixem-se hipnotizar e eterizar pela sua radiância cristalina, e
testemunhem todo o desarmante portento de um dos álbuns mais cativantes forjados
em 2019.
Links:
➥ Facebook
➥ Bandcamp
➥ Stickman Records
➥ Bandcamp
➥ Stickman Records
Sem comentários:
Enviar um comentário