Da cidade francesa de Lyon chega-nos o empolgante álbum de
estreia do jovem tridente Praÿ.
Lançado muito recentemente através da sua página oficial de Bandcamp em formato digital, de CD e ainda
numa limitada edição em vinil, este registo de denominação homónima encerra um electrizante,
dinâmico, xamânico e euforizante Heavy
Psych de um corrosivo e chamejante efeito Fuzz, que tanto se robustece
e obscurece num montanhoso, lamacento e poderoso Psych Doom, como se apazigua e nebuliza num meditativo, místico e
lenitivo Space Rock. A sua
sonoridade – nutrida e conduzida a envolventes, valvuladas e eloquentes jams
de natureza instrumental e sideral – tem a capacidade de absorver, amotinar e
extasiar o ouvinte ao longo de todo o seu corpo temporal, pendulando-o do mais
soterrado abismo terrestre ao mais elevado ponto do Cosmos. São cerca de 48 minutos povoados
por quatro longos temas e alternados por uma bipolaridade atmosférica que tanto
nos sacode, centrifuga e explode de incontida e fervorosa adrenalina, como nos relaxa,
narcotiza e eteriza de uma temulenta sublimidade temperada a morfina. E é esta
bipolaridade musical e emocional que faz de ‘Praÿ’ um álbum
verdadeiramente irresistível aos ouvidos do comum mortal. Deixem-se absorver,
enlouquecer e deleitar à boleia de uma guitarra endeusada e consagrada pelos
astros que se manifesta em riffs
vultosos, pujantes e rumorosos, e se agita em alucinantes, ácidos e trepidantes
solos, um baixo carrancudo de linhas carregadas, magnetizantes, intrigantes e
onduladas, e uma bateria sísmica que com a sua impetuosa, arrojada e fogosa ritmicidade
esporeia e incendeia toda esta violenta evasão da consciência pelo profundo
negrume astral. A cuidadosa, detalhada e engenhosa ilustração que confere rosto
a este portentoso registo é da autoria da artista francesa Jody de Bousilly (aka Mamie Bousille) que vertera com exatidão
para o universo visual o que de mais secreto e primordial subsiste na enigmática
essência de ‘Praÿ’. Este é um álbum de propensão sideral que nos suga
através de um desenfreado vórtice e desagua num perfeito estado de encantamento
e exultação. Já tinha saudades de um disco assim.
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