Da boémia e irreverente cidade australiana
de Melbourne – residência de carismáticas referências como Ahkmed,
Child, Holy Serpent, Hotel Wrecking City Traders, Elbrus,
Buried Feather, Khan e Pseudo Mind Hive – chega-nos o
fabuloso e auspicioso álbum de estreia do quarteto Mote intitulado de ‘Samalas’.
Lançado no passado mês de Março sob a forma física de vinil (numa edição
autoral de prensagem ultra-limitada a apenas 150 cópias, (in)felizmente já
esgotadas), este seu primeiro trabalho de estúdio traz-nos a fragância astral e
os devaneios alienígenas de um hipnotizante, alucinógeno e deslumbrante Psych
Rock de criativa orientação experimental e ritmicidade pautada por
um envolvente e magnetizante Drone Rock. A sua sonoridade camaleónica
distende-se de uma paisagem desértica, cálida e árida até aos longínquos e secretos
domínios de um Cosmos distorcido, esbatido e embriagado. Numa vistosa ignição
consciencial que nos catapulta e canaliza através de um delirante vórtice,
somos absorvidos, intoxicados e atordoados por uma crescente alucinação sem destino à vista.
Entregues a um movimento pendular que tanto nos soterra numa meditativa introspecção
que climatiza o nosso Universo interior, como nos cospe violentamente na
vertiginosa direcção das costuras que amuralham o espaço sideral, somos prontamente
convertidos em astronautas à descoberta de ‘Samalas’. Deixem-se
escorregar pelas viscosas artérias desta quimérica hipnose à incrível boleia de
duas guitarras mântricas que dialogam em extasiantes, ensolarados, sublimados e
inebriantes acordes, e se repelem em solos temulentos, ácidos, coloridos e anestésicos,
um murmurante baixo de linhas onduladas, fluídas, densas e musculadas, uma
bateria criativa, arrojada e incisiva de cadência empolgante, uma voz ecoante,
messiânica e penetrante que raras vezes emerge desta saturada e psicotrópica
radiação, e ainda um fascinante sintetizador que irriga e sulfata toda a exótica
atmosfera de ‘Samalas’ com a sua intrigante, mágica e
enternecedora bafagem de odor estelar. Este é um álbum de natureza celestial que
nos sufoca a lucidez e em nós instala um profundo e duradouro estádio de total
embriaguez. Não será fácil regressar das profundezas deste deturpado, lisérgico e maravilhado
álbum de Mote que nos embaciara os sentidos e os sepultara nos mais
fundos abismos do universo onírico.
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