Do insuspeito território
australiano chega mais um álbum de inegável qualidade. Refiro-me a ‘Stoneface’,
o segundo e novo trabalho de longa duração do apaixonante power-trio The
Ivory Elephant natural da cidade de Melbourne. Oficialmente lançado
no passado dia 26 de Julho pela mão da influente editora discográfica de origem
germânica Kozmik Artifactz sob a forma física de CD e vinil, este ‘Stoneface’
presenteia e prazenteia todos os seus ouvintes com uma inspirada dosagem de um empolgante,
ferrugento, revivalista e inflamante Garage-Blues que tanto se bronzeia,
mistifica e apazigua num relaxante, ensolarado, caleidoscópico e inebriante psicadelismo primaveril de ambiência Western, como se enlameia e incendeia no espesso e pantanoso
negrume de um obscuro, montanhoso, fibrótico e ostentoso Heavy Blues de
feições Doom’escas. Contando ainda com (in)discretas, mas sempre
desejáveis, aproximações ao rústico e carismático Delta-Blues superiormente
tricotado nas velhas margens do rio Mississippi, e com a agradável existência
de perfumadas, douradas e refrescantes baladas climatizadas por uma anestésica brisa
desértica, este segundo álbum de The Ivory Elephant instaurara em mim
todo um intenso e fulgurante estádio de transbordante encantamento que me envolvera,
estarrecera e ofuscara do primeiro ao derradeiro tema. São 48 minutos saturados
de uma apurada sensualidade que prontamente nos corteja e contagia.
Desprendam-se de qualquer amarra de timidez e – de olhar selado e sorriso
talhado e perpetuado no rosto – serpenteiem detida e apaixonadamente a exótica
musicalidade transpirada por todos os poros de ‘Stoneface’. De
alma salivante e enfeitiçada somos convidados a embarcar numa descomplexada dança
corporal em resposta instintiva a uma guitarra emotiva que se envaidece em sinuosos,
arrojados, inflamados e garbosos riffs – temperados e tomados pela efervescente
acidez e febril fogosidade do corrosivo efeito Fuzz – de onde se ramificam e
frutificam uivantes, tóxicos e atordoantes solos de airosa beleza, uma voz melódica,
ecoante, liderante e radiofónica, um baixo diligente que se esperneia em linhas
murmurantes, fluídas, oleadas e ondulantes, e ainda uma estimulante, criativa e
magnetizante bateria de toque cintilante, polido, cuidado e chamejante que troteia
e esporeia com emocionante destreza toda esta fabulosa digressão pelos
poeirentos e ruborizados firmamentos do velho oeste. Chego ao final deste admirável
álbum completamente dominado por uma ininterrupta sensação de torpor que me
afaga e trava os membros e sentidos. Deixem-se inundar na deslumbrante, mélica
e extasiante toxicidade vaporada por ‘Stoneface’, e experienciem
todo o quimérico esplendor de um dos registos mais atraentes de 2019.
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