Depois de no Outono de 2017
terem lançado o EP homónimo (devidamente desconstruído e elogiado aqui) –
posteriormente considerando-o e premiando-o como um dos melhores EP’s
produzidos nesse mesmo ano (listagem aqui) – os portugueses Jesus the
Snake preparam-se agora para apresentar o seu tão aguardado primeiro
trabalho de longa duração intitulado de ‘Black Acid, Pink Rain’.
Apesar da sua data de nascimento estar programada apenas para o próximo dia 11
do presente mês de Julho, fora-me dada a honrosa e irrecusável oportunidade de
o ouvir na íntegra e em primeira mão, e o que se segue adjectiva-se como o mais
fiel e sentido resultado dessa experiência. Gravado, misturado e masterizado no
estúdio minhoto Hertzcontrol (com o qual a banda reforça a sua ligação),
este refinado e inspirado álbum de estreia do jovem quarteto natural da cidade
de Vizela (Braga) é ensolarado, perfumado e condimentado por um
edénico, deslumbrante e místico Psych Rock em agradável cumplicidade com
um meditativo, lisérgico e lenitivo Krautrock e ainda um devocional,
viajante e sideral Space Rock que nos desata as amarras da gravidade
terrestre e magnetiza a nossa consciência de encontro à mais profunda
intimidade do Cosmos. De bússola apontada a uns Causa Sui, Camel
e Pink Floyd, a sonoridade de ‘Black Acid, Pink Rain’
provocara em mim toda uma febril e morfínica hipnose que me atestara, afagara e
sedara de prazer. Uma evolutiva, criativa e maravilhosa peregrinação pelos
desertos da mente, de pés descalços a trilhar onduladas, sedosas e amorenadas
dunas, olhar petrificado e farolizado pelo Sol poente, e cabeça soterrada na
densa e intoxicante nebulosidade astral. Empoeirem-se no ofuscante misticismo
que aureola todo o corpo temporal deste álbum e sintam-se dormitar num
prazeroso estádio de inércia que vos conduzirá ao tão almejado reino do transe
espiritual. Maravilhem-se por entre a admirável simbiose instrumental de onde
se enfatiza uma endeusada guitarra de orientação Floyd’eana
que se enternece e embevece em suavizantes, sedutores, sublimados e uivantes
acordes, e solos comoventes, delicados, apurados e anestesiantes, um baixo
murmurante de hipnotizantes linhas norteadas a robustez, voluptuosidade e
fluidez, uma bateria balsâmica de toque cintilante, leve, despretensioso e
cativante, e ainda um magnético, fabuloso e sidérico teclado que confere a ‘Black
Acid, Pink Rain’ toda uma mágica cobertura atmosférica oxigenada por
uma sedutora e psicotrópica ataraxia via auditiva. De louvar também o quimérico
artwork de créditos apontados ao imaginativo artista lusitano GuilhermeDourart, que – com este vertiginoso e caleidoscópico vórtice rendilhado por
labirínticas, coloridas e lustrosas nebulosas – nos convida a um mergulho no
esplendoroso universo de Jesus the Snake. Dissolvam a vossa lucidez
nesta saturada narcose e despertem num pleno estádio de embriaguez do qual não
será nada fácil regressar.
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