Depois de um longo jejum
discográfico que sucedera em 2014 após o lançamento do seu agradável álbum de estreia ‘Nitrogen’
(review aqui), eis que o fantástico power-trio holandês Mantra
Machine – enraizado na cidade-capital de Amesterdão – regressa agora
de alma revigorada e atestada de inspiração com a promoção do seu tão aguardado
segundo registo de longa duração, intitulado ‘Heliosphere’ e presenteado
sob a forma física de vinil (numa edição autoral e ultra-limitada a apenas 300
cópias existentes). Tal como acontece com o seu antecessor, ‘Heliosphere’
vem abastecido de um fervilhante, ritmado, animado e inflamante Desert Rock
com indiscretas aproximações a um eloquente, cinematográfico e envolvente Post-Rock
e ainda oxigenado por um viajante, extasiado e deslumbrante Space Rock de
clara propensão estelar. De influências apontadas a Sungrazer e Colour
Haze, a sua sonoridade acalorada, embriagante, entusiasmante e delirada
balanceia o ouvinte numa fluída alternância sensorial que o passeia de um mélico
e anestésico estádio de intensa embriaguez a uma tempestuosa efervescência de
redentora e sonhadora euforia. De pés descalços sobre um calejado, estéril e
bronzeado tapete desértico que se estende e renova pelo firmamento afogueado pelo
Sol poente, e cabeça sepultada na mais profunda intimidade do negro solo
cósmico, somos banhados e massajados por um monolítico tsunami de
endorfinas que nos embalsama numa perfeita sensação de ataraxia. De corpo recostado
e relaxado, olhar maravilhado e semi-cerrado, narinas dilatadas e sorriso eternizado,
interiorizamos toda a contagiante ressonância veraneia de ‘Heliosphere’
que se canaliza e mareia pelas artérias da nossa espiritualidade. As suas jams
de essência instrumental – sobrecarregadas de misticismo, exotismo e
psicadelismo – são superiormente dirigidas por uma guitarra tropical de riffs
estimulantes, afrodisíacos, inefáveis e empolgantes que se avolumam, apimentam e
vivificam à boleia do chamejante efeito Fuzz, um baixo encorpado e
agradavelmente balanceado a linhas reverberantes, sombreadas, empoladas e
possantes, e uma despretensiosa bateria de ritmicidade magnetizante, prazenteira
e cativante que tiquetaqueia este segundo e renovado capítulo da fabulosa
digressão trilhada pelos Mantra Machine. É-me ainda fundamental alongar os
elogios ao fabuloso artwork – soberbamente pincelado pelo ilustrador
holandês Jonas Louisse – que nos maravilha com a sua ondulação de textura e coloração estelar. ‘Heliosphere’ é um álbum de fácil digestão e
imediata devoção. Deixem-se envolver e arrebatar pela intoxicante fervura de um
dos registos mais deliciosos de 2019.
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