segunda-feira, 9 de setembro de 2019

Review: ⚡ Benguela Blues Connection - 'S/T' (2019) ⚡

Baterista por predefinição – mais comummente reconhecido pelo seu trabalho de baquetas empunhadas ao serviço de Fast Eddie Nelson – o músico português Nuno Carromeu decidira olhar-se ao espelho, acumulando e canalizando toda a sua inspiração musical para o seu primeiro projecto a solo apelidado de Benguela Blues Connection, e – devo antecipar sem demoras – o resultado do mesmo não poderia ser mais do meu agrado. Lançado muito recentemente pela já afamada editora discográfica lusitana Raging Planet sob a forma física de vinil (reduzido a uma prensagem ultra-limitada de apenas 300 cópias existentes), este magnífico álbum de designação homónima simboliza o ponto de encontro entre um elegante, rústico, radiofónico e serpenteante Blues-Rock de orientação revivalista e paladar Jimi Hendrix’eano, um edénico, envolvente, atraente e messiânico Desert Rock à boa e velha moda de ‘Jalamanta’ (Brant Bjork, 1999) e ainda um dançante, carnavalesco, fogoso e empolgante Zamrock de calor e odor africanos, criando assim todo um exótico, aromático e irresistível cocktail sonoro que prontamente me colocara os ouvidos em constante salivação. Senhorio de todos os instrumentos que se entrelaçam e harmonizam em eloquentes diálogos entre si, Nuno Carromeu pode muito bem orgulhar-se da veraneia sonoridade por ele pensada e tricotada, que de forma tão agradável se passeia e galanteia pela longevidade deste álbum de rica e singular personalidade. Ao volante de uma endeusada guitarra que se envaidece em uivantes, alucinógenos, bronzeados e delirantes acordes, um baixo Funky & Groovy de linhas ondulantes, eróticas, torneadas e hipnotizantes, uma soberba bateria jazzística de ofegante galope tribalista e toque desembaraçado, cintilante, provocante e inspirado que tiquetaqueia e capitaneia todo o álbum com desarmante perícia, ousadia e sensibilidade, e ainda uma passageira voz de textura megafónica que ecoa pelas calejadas e ensolaradas paisagens de ‘Benguela Blues Connection’, somos embalados das idosas margens do rio Mississippi onde o carismático Delta-Blues fora lavrado, exorcizado e hasteado, até uma sagrada peregrinação desértica – acima de aveludadas, arenosas e amorenadas dunas e debaixo das fervilhantes e vibrantes lufadas suspiradas por um intenso e vigilante Sol que se debruça no firmamento – de destino apontado a um verdadeiro oásis onde a nossa alma se esbate, banha e deleita. De estender também as mais elogiosas palavras ao impactante artwork – a fazer recordar o mítico trabalho visual do pintor alemão Mati Klarwein que confere rosto ao histórico e revolucionário registo ‘Bitches Brew’ (Miles Davis, 1970) – superiormente ilustrado pelo talentoso artista português Ricardo Reis e onde os nossos olhos mergulham e naufragam por entre a estonteante profusão de cores e a conjugação de elementos. ‘Benguela Blues Connection’ é um álbum ritualista de sublimada e consumada beleza que nos afaga todos os sentidos e eteriza a alma num inebriante estádio de profundo relaxamento. Não vai ser fácil despertar deste paraíso de indução auditiva que nos massajara e consagrara ao longo dos 38 minutos que balizam o primeiro e o derradeiro tema. Um primoroso e caprichoso registo – detentor de uma aliciante aura meditativa e profética – que apressadamente nos converte em seus devotos discípulos. Estamos indubitavelmente na presença de um dos mais veneráveis discos do ano que promete batalhar de forma aguerrida por um dos lugares mais invejáveis da listagem final onde estarão perfilados e medalhados os melhores álbuns de 2019.

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