De Denver – a cidade
mais populosa do estado norte-americano do Colorado – chega-nos ‘Unhanded’,
o desconcertante álbum de estreia do tridente The Munsens. Lançado no já
distante mês de Fevereiro sob a forma física de vinil (repartido em duas
edições distintas) através do jovem selo discográfico local Sailor Records,
este poderoso e pesaroso registo vem assombrado por um fulminante, misantrópico,
luciférico e pujante Black Metal – esporeado e ritmado a alta rotação Punk
/ Hardcore, e enlameado por um lodacento, nocivo e musguento Sludge
Metal de elevada toxicidade – que se esmorece e entristece num sepulcral, prostrado
e outonal Doom Metal pincelado a trágica melancolia. A sua provocante,
ácida e intrigante sonoridade pendula entre uma cáustica, obscura e monolítica avalanche
locomovida a intensa ferocidade, e taciturnas passagens tristemente belas que
nos embalsamam e estacionam num profundo estádio de doce inércia. E é este acentuado
contraste entre duas emoções tão díspares e antagónicas – onde a violenta tempestade
e a distópica bonança caminham lado a lado – que faz deste ‘Unhanded’
um álbum tremendamente fascinante que nos encarcera do primeiro ao derradeiro
tema. São 37 minutos chamejados de uma raivosa e tenebrosa soturnidade superiormente
capitaneada por uma voz exasperada, corrosiva, acrimoniosa e denteada, uma sinistra
guitarra de Riffs lutuosos, enigmáticos, ritualísticos e pavorosos, e escassos solos lampejantes, gélidos, cortantes e ostentosos, um
baixo encorpado de linhas possantes, densas, tensas e hipnotizantes, e uma
bateria rutilante, incisiva, ofensiva e fumegante que chicoteia e incendia toda
esta fatídica, sorumbática e esconjurada ambiência dos tirânicos The Munsens.
É de alma profundamente consternada e sentidos embriagados que alcanço o final
desta demoníaca e angustiante liturgia. ‘Unhanded’ é um álbum de
natureza dominante que enegrece, deprime e esvazia de esperança todo aquele que
nele se reconfortar. Um disco verdadeiramente impactante, trovador de narrativas dramáticas e sombrias,
propício a ser experimentado na penumbra de dias chuvosos e pardacentos. Pois nem só na sorridente luminância e quentura da Primavera e Verão é vivida a existência do Homem. Soterrem-se nele.
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