Proveniente da cidade de Perm
(Rússia), chega-nos o homónimo e ousado álbum de estreia (e que estreia!) da jovem
formação ‘Scarecrow’ que – para minha plena satisfação – faz do
passado o seu presente (e – espero eu – seu futuro). Lançado no passado mês de
Setembro exclusivamente em formato digital através da sua página de Bandcamp
oficial, mas com a promessa deixada pela banda de uma futura edição física pensada
para o final do presente ano – ‘Scarecrow’ presenteia e afogueia todos
os seus ouvintes com um imperioso, sinfónico, ritualístico e ostentoso Proto-Metal
de extravagância setentista em parceria com um poderoso, melódico,
enigmático e majestoso Heavy Metal de raiz tradicionalista e ainda um contemplativo,
outonal, estival e imersivo Folk trovador de ornamentadas e arrebatadoras baladas. A sua
sonoridade eclética, de orientação revivalista, epopeica e romancista – executada a uma maestria e complexidade
quase orquestral – tem o dom de nos intrigar, fascinar e transportar para uma mística era
caída há muito em desuso. ‘Scarecrow’ conserva a esquecida magia
dos contos fabulares que arregalavam o olhar chamejante e seduziam o espírito inquietante
dos mais jovens. Toda uma maravilhosa e sumptuosa cerimónia de preces apontadas
ao domínio ocultista que nos preserva num constante feitiço do primeiro ao
derradeiro tema. São 36 minutos perfumados a uma imprevisível heterogeneidade
musical que nos surpreende e sublima ao virar de cada esquina. Saltitando de género
em género, a opulenta musicalidade de Scarecrow vai desbravando territórios
inexplorados e saciando o voraz apetite dos ouvidos mais experimentados. Como
ingredientes deste inspirado e apaladado sortido sonoro estão uma faustosa guitarra
de montanhosos, portentosos e imponentes Riffs de onde são desatados magnetizantes,
ácidos e gritantes solos, um volumoso e poderoso baixo Black Sabbath’ico
de pesada ressonância que se balanceia por linhas pulsantes, sombreadas, musculadas
e ondeantes, uma estimulante bateria de toque incisivo, lustroso e criativo que
se ajusta na perfeição a todos os desiguais momentos do álbum, e uma voz de tez
melodiosa, translúcida, gélida, diabrina e penetrante que sobrevoa e ecoa com
destacada e exaltada presença. De referenciar e elogiar também – ainda que num plano
secundário pelas suas fugazes aparições – os serpenteantes, hipnóticos e
extravagantes bailados lavrados por uma harmónica e uma flauta, que conferem
todo um endeusado carisma a esta aparatosa estreia da banda russa. Deixem-se
ofuscar pelo sofisticado e erudito requinte que este ‘Scarecrow’
ostenta. Um álbum de contornos épicos, ideal como companhia sonora para quem
se esconde e enluta na penumbra, e deixa absorver pela literatura gótica de Edgar
Allan Poe. Deixem-se intrigar e maravilhar pela unicidade musical de Scarecrow, e testemunhar uma das estreias mais auspiciosas e assombrosas do ano.
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