domingo, 12 de janeiro de 2020

Review: ⚡ Two Headed Dog - 'Fire Fire' EP (2020) ⚡

Vindo da artística, carismática e muito prolífica cidade de Melbourne (situada na Austrália), casa-mãe de emergentes e consumadas referências musicais como Ahkmed, Child, Holy Serpent, Hotel Wrecking City Traders, Elbrus, Buried Feather, Khan, The Ivory Elephant, Mote, Foot e Pseudo Mind Hive, chega-nos o curto mas delicioso EP de estreia do jovem quarteto Two Headed Dog (nome que nos remete imediatamente para o icónico e saudoso Roky Erickson). Ostentando o irónico título de ‘Fire Fire’ (dado o inferno de proporções dantescas que continua a lavrar e incinerar uma parte considerável do território ecológico australiano) e acabado de ser oficialmente lançado numa simpática edição autoral que engloba os formatos físicos de CD e vinil (ambos reduzidos a uma prensagem ultra-limitada de apenas 50 cópias disponíveis), este venerável EP – onde apenas gravitam dois temas de essência e duração aparentadas – respira e transpira um vibrante, sedutor, abrasador e extasiante Blues Rock de mãos dadas a um elegante, harmonioso, provocante e majestoso Classic Rock cuidadosamente resgatados às douradas décadas de 60 e 70, e posteriormente talhados e polidos à imagem da banda. A sua aliciante, idílica e contagiante sonoridade – de clima ensolarado e apaladado, uma doce fragância vintage e bússolas apontadas a consagradas influências como Jimi Hendrix, The Doors e Creedence Clearwater Revival – passeia-se e formoseia-se livre e graciosamente pela atmosfera veraneia que ‘Fire Fire’ desenha, colora e desdobra no imaginário do ouvinte. De sorriso riscado por entre bochechas rosadas, boca salivante, pálpebras recolhidas, olhar eclipsado, pés martelando o chão ao compasso da música, ombros saltitantes, e cabeça baloiçante, somos bronzeados, acariciados e intensamente maravilhados pela edénica resplandecência farolizada por uma guitarra afrodisíaca que se manifesta em mélicos, feéricos, afáveis e desmesuradamente agradáveis acordes de onde florescem vistosos, charmosos, serpenteantes e protuberantes solos executados a uma destreza e beleza lapidares, um mágico teclado de vocação Ray Manzarek’eana (dotado teclista de The Doors) que borrifa toda esta quimérica ambiência com a sua desarmante, irreverente, eloquente e simétrica maviosidade, um murmurante baixo movimentado a linhas onduladas, meditativas, hipnóticas e sombreadas, uma vulcânica bateria de inspirada, sedutora, catalisadora e apimentada ritmicidade, e ainda uma voz fogosa, felina e portentosa – de elevado e apurado sentido melódico – que capitaneia com notável distinção todo este irretocável EP de estreia. Estamos na presença de um registo movido a uma estética sensibilidade que resvala nas costuras da perfeição. Um EP bafejado pelo capricho, integralmente confeccionado à minha imagem, e que apenas peca pela sua curta duração. Dificilmente os australianos Two Headed Dog poderiam almejar uma estreia mais promissora que esta. Vivenciem entusiástica e repetidamente este odoroso e luxurioso ‘Fire Fire’, e testemunhem toda a magmática erupção expelida por aquele que seguramente conquistará e firmará uma posição de grande destaque por entre os melhores EP’s lançados no presente ano de 2020.

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