Da cidade-capital de Viena
(Áustria) chega-nos o ensolarado, perfumado e adorável álbum de estreia
do jovem quarteto Hypnotic Floor. Intitulado de ‘Foggy Bog Eyes’
e muito recentemente lançado tanto em formato digital (com a opção de download
gratuito) como numa edição de produção autoral sob a forma física de vinil,
este fabuloso, esmerado e auspicioso registo vem sobrevoado e aureolado por um deslumbrante,
aromatizado, bucólico e calmante Psychedelic Rock de paladar sessentista
e roupagem West Coast, um lenitivo, hipnotizante, narcotizante e
meditativo Krautrock de projecção astral, e ainda um bocejante, tímido,
desértico e embriagante Blues Rock de maquilhagem revivalista que
ocasionalmente se agiganta, robustece e aferventa à boleia do efeito Fuzz.
Todo este afagante, prazeroso e apaixonante sortido sonoro é brilhantemente conjugado
e uniformizado por uma ofuscante, delirante, delicada e afrodisíaca fluidez que
nos massaja o cerebelo, relaxa os membros e atordoa os sentidos. De pálpebras
pesadas e semi-seladas, cabeça embriagada e demoradamente arremessada de ombro a
ombro, sorriso desenhado e petrificado no rosto de tez corada, e alma integralmente
sedada, abraçada e revestida por uma reconfortante, catártica e incessante sensação
de doce e plena ataraxia, somos farolizados, irrigados e enfeitiçados por uma
intensa luzência caleidoscópica que nos estarrece, bronzeia e entontece do
primeiro ao derradeiro tema. São 38 minutos encharcados e mareados por uma
alucinógena resplandecência aliada a uma lúcida sonolência que desvendam e
distendem no nosso imaginário frescas, desanuviadas e verdejantes paisagens pintadas
a colorações primaveris, saturadas, distorcidas e banhadas pelo fervilhante
bafo de um vespertino Sol que se debruça e desmaia no firmamento. Na composição
deste exótico cocktail estão duas guitarras camaleónicas que se cruzam
na criação de agradáveis, sorridentes e veneráveis acordes facilmente digeríveis, e
descruzam na extravagante orientação de serpenteantes, ácidos e borbulhantes
solos, um murmurante baixo de linhas relaxadas, onduladas e flutuantes, uma descontraída
bateria de ritmicidade cuidada, fascinante e apaixonada, e ainda a tímida presença de uns vocais estivais,
translúcidos, aveludados e joviais que se passeiam livremente pela radiosa e portentosa atmosfera de ‘Foggy Bog Eyes’. De estender ainda palavras
elogiosas ao detalhado, inspirado e novelesco artwork de créditos
apontados à ilustradora Moni Niederlechner que confere toda uma espirituosa
moldura de simetria vintage a esta irresistível obra levada a cabo pelos
austríacos Hypnotic Floor. Este formoso álbum conserva em si toda uma
sublimada, imersiva e consumada beleza, e em mim a madura convicção de que estou mesmo na presença de um dos trabalhos mais caprichosos, admiráveis e irretocáveis de 2020.
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