Da cidade inglesa de Newcastle
chega-nos o espantoso, feérico e aparatoso álbum de estreia do recém-formado
tridente OZO. Oficialmente lançado pela independente editora
discográfica de raiz britânica Riot Season Records sob a forma física de
vinil (reduzido à prensagem de parcas centenas de cópias disponíveis para venda),
‘Saturn’ vem afogueado, atormentado e distorcido por um carnavalesco,
esquizofrénico, extravagante e pitoresco Free Jazz de clara inspiração
trazida de vultosas referências do género tais como Sun Ra, Pharoah
Sanders, John Coltrane e Alice Coltrane, um alucinante, sideral,
nebuloso e narcotizante Heavy Psych de exploratórias jam’s a
fazerem lembrar as deslumbrantes odisseias lideradas pelos saudosos Blown
Out, e ainda um delirado, bombástico, orgiástico e desgovernado Noise
Rock remexido e temperado por um experimentalismo sónico que coloca à prova
todo o vigor da nossa sanidade mental. A sua sonoridade labiríntica, mística,
intrusiva e abstrata serpenteia-se, desenvolve-se e galanteia-se de forma audaciosa,
luxuosa e descomplexada pelos cinco temas que compõem o álbum. São 38 minutos inteiramente
governados por uma hipnótica, envolvente e afrodisíaca simbiose instrumental de
onde se testemunha e experiencia toda a explosiva exuberância uivada por um anárquico saxofone
de bailados ziguezagueantes, berrantes, caóticos, destravados e ecoantes, a reverberante
ondulação bafejada e orientada por um magnetizante baixo de linhas pulsantes,
robustas, obscuras e constantes, a arrebatadora vertigem de uma selvática guitarra
que grita vertiginosos, penetrantes, atordoantes e venenosos solos de extensão
a perder de vista, e ainda a acrobática e enfática ritmicidade desdobrada por
uma imaginativa bateria de sensibilidade e sagacidade jazzísticas que – com
o seu toque polido, luminoso, fervoroso e decidido – tiquetaqueia e incendeia toda
esta épica erupção capaz de nos embaciar e drenar a lucidez, atropelar a sanidade mental
e distorcer os sentidos. ‘Saturn’ é um álbum verdadeiramente
sensacional – aconselhado a ouvidos maturados e mentes espaçosas – que me cativara
e inflamara logo na primeira audição que lhe dedicara. Um ornamentado e sofisticado registo de
essência singular que confere total liberdade criativa a todos os instrumentos
que o tricotam por linhas coloridas e sinuosas. Deixem-se diluir, inebriar e
sublimar nas evolutivas, brumosas, intoxicantes e criativas jam’s de OZO, e sintam-se
catapultar para um memorável mergulho pelas profundezas do negrume cósmico. Não
será nada fácil recuperar o equilíbrio mental que de forma progressiva e discreta
nos fora subtraído pela etérea loucura superiormente orquestrada e executada por
este muito talentoso e auspicioso power-trio inglês.
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