segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Review: ⚡ OZO - 'Saturn‘ (2020) ⚡

Da cidade inglesa de Newcastle chega-nos o espantoso, feérico e aparatoso álbum de estreia do recém-formado tridente OZO. Oficialmente lançado pela independente editora discográfica de raiz britânica Riot Season Records sob a forma física de vinil (reduzido à prensagem de parcas centenas de cópias disponíveis para venda), ‘Saturn’ vem afogueado, atormentado e distorcido por um carnavalesco, esquizofrénico, extravagante e pitoresco Free Jazz de clara inspiração trazida de vultosas referências do género tais como Sun Ra, Pharoah Sanders, John Coltrane e Alice Coltrane, um alucinante, sideral, nebuloso e narcotizante Heavy Psych de exploratórias jam’s a fazerem lembrar as deslumbrantes odisseias lideradas pelos saudosos Blown Out, e ainda um delirado, bombástico, orgiástico e desgovernado Noise Rock remexido e temperado por um experimentalismo sónico que coloca à prova todo o vigor da nossa sanidade mental. A sua sonoridade labiríntica, mística, intrusiva e abstrata serpenteia-se, desenvolve-se e galanteia-se de forma audaciosa, luxuosa e descomplexada pelos cinco temas que compõem o álbum. São 38 minutos inteiramente governados por uma hipnótica, envolvente e afrodisíaca simbiose instrumental de onde se testemunha e experiencia toda a explosiva exuberância uivada por um anárquico saxofone de bailados ziguezagueantes, berrantes, caóticos, destravados e ecoantes, a reverberante ondulação bafejada e orientada por um magnetizante baixo de linhas pulsantes, robustas, obscuras e constantes, a arrebatadora vertigem de uma selvática guitarra que grita vertiginosos, penetrantes, atordoantes e venenosos solos de extensão a perder de vista, e ainda a acrobática e enfática ritmicidade desdobrada por uma imaginativa bateria de sensibilidade e sagacidade jazzísticas que – com o seu toque polido, luminoso, fervoroso e decidido – tiquetaqueia e incendeia toda esta épica erupção capaz de nos embaciar e drenar a lucidez, atropelar a sanidade mental e distorcer os sentidos. ‘Saturn’ é um álbum verdadeiramente sensacional – aconselhado a ouvidos maturados e mentes espaçosas – que me cativara e inflamara logo na primeira audição que lhe dedicara. Um ornamentado e sofisticado registo de essência singular que confere total liberdade criativa a todos os instrumentos que o tricotam por linhas coloridas e sinuosas. Deixem-se diluir, inebriar e sublimar nas evolutivas, brumosas, intoxicantes e criativas jam’s de OZO, e sintam-se catapultar para um memorável mergulho pelas profundezas do negrume cósmico. Não será nada fácil recuperar o equilíbrio mental que de forma progressiva e discreta nos fora subtraído pela etérea loucura superiormente orquestrada e executada por este muito talentoso e auspicioso power-trio inglês.

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