É ainda de espírito tomado e
acalorado pelo intenso entusiasmo provocado pelos britânicos Pink Cigs
que escrevo estas palavras apaixonadas, dedicadas ao seu impactante álbum de
estreia. De designação homónima e lançado no princípio do passado mês de Janeiro
exclusivamente em formato digital através da sua página de Bandcamp
oficial, este primeiro trabalho de longa duração hasteado pelo pujante quarteto
natural da cidade inglesa de Sheffield vem escudado e inflamado por um poderoso,
possante, elegante e oleoso Classic Rock de feições e trajes revivalistas, em vibrante
cumplicidade com um tenebroso, enigmático, sorumbático e ostentoso Proto-Metal
de convocatória setentista. Resultada da estrondosa e gloriosa conjugação entre a
dourada graciosidade e a ofuscante sagacidade resplandecidas e suadas de uns icónicos
Led Zeppelin com a enegrecida densidade e luciférica toxicidade rugidas e
fumegadas de uns legendários Black Sabbath ou Pentagram, a hipnotizante,
mastodôntica e euforizante sonoridade de Pink Cigs provocara e
conservara em mim toda uma adorável, turbulenta e inesgotável efervescência que
me arrebatara, embevecera e empolgara do primeiro ao derradeiro tema. São cerca
de 34 minutos integralmente pensados e executados à minha imagem. Uma monstruosa dosagem
de pura adrenalina via auditiva que me possuíra, enfeitiçara e rejubilara a
alma sedenta de algo assim. À alucinante boleia sonora de uma arrojada, enlouquecedora, avassaladora e destravada locomotiva que desbrava toda uma frenética, vertiginosa
e acrobática montanha-russa, somos atropelados e excitados por duas guitarras titânicas,
feéricas e afrodisíacas que se unificam na monolítica ascensão de Riffs
musculados, vulcânicos, tirânicos, triunfantes e aferventados, e se entrançam e perseguem na trepidante
canalização de ziguezagueantes, desenfreados, tresloucados, avinagrados e inflamantes solos,
sombreados e intimidados por um corpulento e volumoso baixo de linhas bafejantes,
expressivas, altivas e pulsantes, esporeados e provocados pela ávida galopada
de uma tonitruante bateria carburada a uma despachada, frenética, hiperativa e
obstinada ritmicidade de violenta explosividade imprópria para cardíacos, purificados
e refrescados pelos vocais fragosos, melódicos, ácidos e fibróticos que
cavalgam e alvoroçam toda a extensão deste flamejante, vulcânico e fumegante ‘Pink
Cigs’. Este é um álbum genuinamente libidinoso, inefável e vivificante. Uma obra pornográfica, regada a
gasolina e lavrada a combustão, que me inquietara e exorcizara numa sensorial erupção.
Na pesada e delongada ressaca em mim perpetuada pelo mesmo, tudo em mim grita que
estou na presença de um dos mais fortes candidatos a álbum do ano. Incensurável
e imaculado aos meus ouvidos e restantes sentidos.
Sem comentários:
Enviar um comentário