Chegou a Primavera e com ela
veio um dos álbuns por mim mais aguardados de 2020. Da cidade portuária de Baltimore
(Maryland, EUA) é suspirado e disseminado o agradável aroma
sonoro de Arbouretum com o lançamento integral do seu novo e seráfico álbum
intitulado ‘Let It All In’ e devidamente promovido pela afamada gravadora
nova-iorquina Thrill Jockey sob a forma física de CD e vinil. Oxigenado
e embalado por um sublimado, místico, melódico e refinado Folk – em constante ricochete entre o Indie Folk e o Folk Rock – de mãos dadas a um radioso,
diáfano, açucarado e carinhoso Psychedelic Rock de raiz revivalista e uma
quente e oceânica ambiência West Coast, esta estupenda obra raciocinada
e lapidada pelo fascinante quarteto norte-americano vive da sensibilidade, do
detalhe e primor. A sua sedosa, apaladada, desanuviada e melodiosa sonoridade – aureolada e
encerada por um jubiloso esplendor de clima primaveril e uma ensolarada
atmosfera campesina – tem o dom de nos sedar o olhar, rebaixar as pálpebras a
meia-haste, desenhar um inextinguível sorriso no rosto, corar as bochechas,
purificando e extasiando a alma sedenta de algo assim. De ouvidos salivantes, sentidos adormecidos e corpo mitigado, detidamente entregue a uma
suave dança serpenteante, somos absorvidos, estarrecidos e canonizados por uma
guitarra intensamente afrodisíaca que se enaltece e embevece à boleia de
contemplativos, ternurentos e lenitivos acordes pincelados a desarmante
subtileza, de onde florescem e se envaidecem estonteantes, labirínticos e
inebriantes solos conduzidos a vistosa destreza, um pulsante baixo de magnética
reverberação Krauty balanceado a linhas flutuantes,
sombreadas, tonificadas e ambulantes, uma cativante bateria de afável
ritmicidade galopada a um toque cintilante, polido, descontraído e
enfeitiçante, um fabuloso teclado de magia onírica que deambula nas asas dos
seus eloquentes, etéreos e atraentes bailados, e uma irresistível voz de
aparência veludosa, lustrosa, risonha, e deleitosa que sobrevoa de forma
harmoniosa, liderante e graciosa toda a vastidão deste frondoso, magnificente e
cheiroso jardim sonoro. Chego ao indesejado final deste irretocável e venerável
álbum integralmente entontecido e comovido pela doce maviosidade transudada pelo
mesmo. ‘Let It All In’ é um trabalho magistral – de beleza consumada
e fineza lapidar – que provocara em mim um firme e febril estado de ofuscante
encantamento. Um autêntico oásis espiritual onde todos os nossos membros e
sentidos se esperneiam, massajam e prazenteiam demoradamente. Deixem-se inspirar
e arrebatar pela renovada e inspirada fragância de Arbouretum, e
testemunhem toda a edénica e catártica refulgência farolizada por um disco
fadado a perpetuar-se numa das mais cobiçadas posições por entre os melhores
álbuns do presente ano. Já sentia saudades de vivenciar um registo tão lírico,
íntimo e sincero assim.
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