Proveniente da cidade de New Haven
(localizada no sul do estado norte-americano do Connecticut) chega-nos o impactante
primeiro trabalho de longa duração do quinteto Bone Church. Designado de
‘Acid Communion’ e com o seu lançamento oficial agendado para a
próxima sexta-feira (13 de Março) pela mão do muito produtivo e influente selo discográfico
californiano Ripple Music nos formatos físicos de CD e vinil, este potente
álbum de estreia vem munido de um imperioso, sombreado, oleado e montanhoso Proto-Metal
de ressonância Black Sabbath’ica aliado a um majestoso,
serpenteante, provocante e vigoroso Heavy Blues de tração setentista
e personalidade demoníaca. A sua sonoridade de essência ocultista, dinâmica e titânica, emoldurada a contornos e adornos épicos, desdobra-se vertiginosa e envaidecidamente como que uma desenfreada,
furiosa e alucinada locomotiva – carburada a alta rotação – mordendo e galgando
o horizonte de forma esfaimada, e deixando na sua retaguarda os carris incandescentes
e chamejados. Toda uma selvática, possante e frenética cavalaria pesada que nos
persegue e atropela sem a mais pequena réstia de compaixão. De maxilares firmemente
cerrados, olhar determinado, cabeça intensamente rodopiante e espírito atestado
e amotinado por um vulcânico entusiasmo, somos varridos, agredidos e arrastados
pelo imponente tsunami sonoro provocado e norteado pelos Bone Church
à contagiante e atordoante boleia de duas guitarras tremendamente virtuosas, majestosas e ostensivas
que rugem electrizantes, arrojados, apressados, acrobáticos e excitantes Riffs de
inspirada e caprichada composição, e vociferam ziguezagueantes, ciclónicos,
hipnóticos e trepidantes solos de ofuscante e inebriante acidez, um pujante baixo
de pesada reverberação orientada a linhas pulsantes, torneadas, encorpadas e
ondeantes, uma impetuosa e estrondosa bateria esporeada a uma ritmicidade
explosiva, enérgica e altiva, e ainda uns vocais escarpados, felinos, melódicos
e apurados - devidamente lubrificados e aromatizados a whiskey – que capitaneiam com
vistoso carisma e desarmante expressividade toda a saturada fogosidade destilada de ‘Acid
Communion’. É-me ainda essencial estender as palavras elogiosas ao
fenomenal artwork – irrepreensivelmente ilustrado pelo deveras talentoso
artista de origem italiana Solo Macello – que retratara com surpreendente
sensibilidade e tecnicidade a horrenda condenação dos hereges chefiada pela draconiana
Inquisição. Este ‘Acid Communion’ é como que gasolina lançada a uma
alma deflagrada pelas chamas. Uma obra intensamente emocionante que nos acelera
o ritmo cardíaco e carboniza de adrenalina. Na ainda enfática ressaca em mim
deixada pelo mesmo, tudo em mim grita que indubitavelmente se trata de um álbum
com justificadas ambições de perpetuar uma nobre posição por entre os mais
medalhados registos lançados em 2020. Deixem-se inflamar pela homérica
sobranceria de Bone Church, e experienciem com incontida fascinação e comoção
uma das grandes surpresas sonoras do ano.
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