Está ultimada a excepcional e
apaladada trilogia discográfica produzida pelos admiráveis Hällas.
Depois de apresentados o homónimo EP de estreia ‘Hällas’
(2015, The Sign Records) e o seu sucessor primeiro trabalho de longa duração designado
de ‘Excerpts From A Future Past’ (2017, The Sign Records), este venerável
quinteto sueco lança agora o seu novo álbum ‘Conundrum’ a duas mãos
através do ainda pouco expressivo selo discográfico local RMV Grammofon e da célebre
editora austríaca Napalm Records sob a forma física de CD e vinil. Estes
cinco templários de semblantes vivamente maquilhados pela refulgente poeira estelar, corpos
sobejamente trajados pelo misticismo fabular, e espadas de lâminas aguçadas, cintilantes
e apontadas a um principesco, deslumbrante, extravagante, aventuroso e
romântico Prog Rock superiormente forjado e hasteado na dourada década
de 1970 – onde se celebrizaram vultosas referências do género tais como RUSH,
YES, Genesis e Eloy – e aqui reencarnado, dão assim a tão ansiada continuidade
à sua encantadora narrativa medieval, fielmente trazida de uma distante época norteada
por costumes há muito em desuso, climatizada pela mitologia ancestral, e onde todos os olhares,
mãos e orações se erguem na vertiginosa direcção do Cosmos. Na sagrada composição
desta inspirada, mágica, rica e sublimada epopeia de raiz imemorial e adornadas
profecias arremessadas para o intrigante e nebuloso domínio astral, estão duas
guitarras messiânicas, gémeas e titânicas que dialogam por entre majestosos,
épicos, feéricos e caprichosos Riffs detentores de uma desarmante beleza,
e se esgrimam e damejam por entre esvoaçantes, encaracolados, refinados e triunfantes
solos de atordoante destreza, um baixo murmurante, hipnótico e liderante bafejado
a robustas, vagueantes, ondeantes e astutas linhas, uma galopante bateria pausadamente
esporeada e tiquetaqueada a uma entretida e absorvente constância rítmica, de
onde sobressaem as ecoantes acrobacias das baquetas pelos timbalões e os ataques
flamejantes, polidos e fulgurantes aos pratos, as gritantes e arrepiantes
sirenes e os harmonizados e eterizados bailados manifestados pelos aromatizados
sintetizadores de natureza Sci-Fi que auscultam, exorcizam e repercutam as
lamúrias dos astros, e ainda uma voz lustrosa, fresca, romanesca, sedosa e melodiosa
– ocasionalmente perseguida e banhada por um populoso, eufónico e luminoso coro
angelical. De espalhar ainda os mais elevados elogios ao novelesco artwork distintamente
pincelado pelo famoso e talentoso Adam Burke (artista responsável pela concepção
visual de todas as obras de Hällas). ‘Conundrum’ é um
álbum verdadeiramente maravilhoso, mareado e equilibrado a enfeitiçantes
baladas Folk de ambiência onírica e bucólica, e provocantes cavalgadas
de imersiva e altiva comoção, que nos conquista a cada audição. Uma consumada e bafejada obra-prima de contornos gloriosos que
ostenta toda uma quimérica aura temperada e engrenada a subtileza, sentimento e sagacidade. Verdadeira ataraxia sensorial onde se banha, bronzeia e regozija a nossa
alma sedenta de experienciar algo assim. Uma vez atraídos e diluídos na intimidade do fantástico universo
de Hällas, não mais é possível dele regressar. ‘Conundrum’ será
seguramente um dos grandes álbuns de 2020. Canonizem-se nele.
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