Da cidade californiana de Oakland
chega-nos a quente e doce fragância revivalista do quarteto The Skookum
Brothers com o lançamento do seu segundo e novo EP intitulado ‘En
Las Montañas’ e promovido exclusivamente em formato digital (com a
possibilidade de download gratuito) através da sua página de Bandcamp
oficial. Sendo eu um intratável entusiasta pela música Rock forjada no
final dos anos 60 e em toda a extensão da década de 1970, não poderia evitar
que a musicalidade deste EP me trouxesse a esta apaixonada dissertação
lírica. Massajado e climatizado por uma sonoridade genuinamente vintage, de onde
facilmente se reconhece e degusta um ensolarado, primaveril, pastoril e
relaxado Psychedelic Rock de coloração Bluesy e inspiração resgatada a icónicas referências como Grateful Dead, The Allman Brothers Band e Quicksilver
Messenger Service, um rural, mavioso, risonho e estival Country Rock
– de discretas aproximações ao vibrante Western Swing – à boa e velha moda
de Neil Young e The Marshall Tucker Band, e ainda um dançante, ritmado,
assanhado e inflamante Boogie Rock de maquilhagem e indumentária ZZ
Top’eana, este afável e adorável ‘En Las Montañas’
conta ainda com a reinterpretação do clássico intemporal “Sugar Mama” (unificando
as versões desiguais executadas pelo guitarrista e purista do Delta-Blues Big Joe
Williams e pelos irlandeses Taste) e de “Ripple” (tema original
dos texanos Shiva's Headband). Embebidos na sua atmosfera western’eana,
as nossas pálpebras escorregam pela córnea abaixo, os lábios curvam e desenham
um genuíno sorriso no rosto, e a cabeça embriagada é pesadamente pendulada de
ombro a ombro à enfeitiçante boleia de uma guitarra trovadora que nos cativa e namora
com os seus acordes envolventes, lenitivos, meditativos e comoventes, e nos
eteriza e nebuliza com os seus solos errantes, exóticos, jubilosos e emocionantes,
uma voz delicada, aconchegante, sóbria e aveludada, um diligente e murmurante baixo serpenteado
a linhas pulsantes, fluidas, sombreadas e magnetizantes, um carismático e
aromático órgão Hammond de harmoniosos, excêntricos e deleitosos bailados,
e ainda uma bateria galopante, despretensiosa e magnetizante que – em cumplicidade
com uma percussão de orientação tribalista – troteia, esporeia e tiquetaqueia toda esta sonhadora,
contemplativa e libertadora cavalgada pelas verdejantes e cinematográficas pradarias
sobrevoadas por uma perfumada e suavizante brisa e farolizadas por um vigilante
Sol chamejado a intensa combustão que se debruça nas montanhas de recortam o intangível firmamento. ‘En Las
Montañas’ é um mágico registo de curta duração que reencarna um encanto
há muito perdido e esquecido. O regresso a um tempo e espaço aclimatados pela pura
e dourada bonança só vislumbrada – por entre suspiros – no nosso imaginário.
Deixem-se sorver e purificar pelo ataráxico, diáfano e edénico revivalismo reluzido
e transpirado por este charmoso e espirituoso EP, e vivenciem de forma absolutamente
detida e deslumbrada esta surpreendente banda contemporânea que – para minha imensa
satisfação – faz do passado o seu presente e futuro. Um verdadeiro fármaco para as almas inadaptadas que - tal como a minha - prosseguem a sua fuga à modernidade.
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