Da outra margem do Oceano
Atlântico chega-nos o tão esperado regresso da talentosa formação brasileira Anjo
Gabriel com a apresentação do seu novo álbum de designação homónima e
gravação analógica, que acaba de ser lançado exclusivamente em formato digital
através da sua página de Bandcamp oficial. Natural da cidade do Recife
– situada no nordeste do Brasil – este quarteto com sensivelmente uma
década de existência e que não prescinde do acréscimo de outros músicos e
consequentes instrumentos de forma a enriquecer a sua exótica musicalidade, tem
em ‘Anjo Gabriel’ a natural extensão da orientação sonora que tem
farolizado toda a discografia da banda sul-americana. Fundamentada num deslumbrante,
colorido, veraneio e contagiante Psychedelic Rock de aroma tropical em harmoniosa,
erótica e calorosa parceria com um ondeante, lenitivo, meditativo e
hipnotizante Krautrock de brisas orientais, e ainda um extravagante, orquestral,
cerebral e delirante Progressive Rock de coreografia carnavalesca, a labiríntica,
sinuosa, caprichosa e enérgica sonoridade deste frutado registo vem trajada,
maquilhada e condimentada por um criativo experimentalismo sem fronteiras que o
inibam ou balizem. De alma arrebatada e atenção atrelada à sofisticada,
aparatosa, revivalista e perfumada musicalidade de ‘Anjo Gabriel’,
somos envolvidos, seduzidos e canalizados pelas frondosas selvas brasileiras onde os nossos sentidos se perdem e encontram num ofuscante,
imersivo e atordoante caleidoscópio. Na génese deste arábico, aliciante e
principesco misticismo está uma guitarra faraónica de Riffs
serpenteantes, religiosos, majestosos e intrigantes e trepidantes, ácidos, alucinados
e transbordantes solos que facilmente me remetera para o psicadelismo burlesco
do ícone latino Carlos Santana, um imponente baixo de reverberação flutuante,
espessa e dançante, uma bateria circense de galopante, acrobática e provocante ritmicidade
– brilhantemente sombreada por uma ritualística percussão de natureza e destreza
tribalista – um carismático órgão de luxuosos bailados, um mágico sintetizador
que exorciza as estrelas, e um enigmático theremin de idioma alienígena. Num
plano secundário ‘Anjo Gabriel’ é também visitado por um Oud de
envolvência pérsica, um violino de enfeitiçantes uivos, um didgeridoo de hálito
monocórdico, e um messiânico coro vocal. Este é um álbum tremendamente complexo
que combina contrastadas substâncias. Uma obra de elaboradas composições que
nos escancara toda uma parafernália de inexperimentadas sensações. Empoeirem-se
nos aromáticos condimentos desta vibrante, animada e inebriante formação
brasileira e experienciem como puderem toda esta abstrata detonação de puro prazer.
Um dos álbuns mais estimulantes do ano está seguramente aqui, na triunfante renascença
do Anjo Gabriel.
Sem comentários:
Enviar um comentário