É regressado de um imersivo,
meditativo e purificante banho de perfumada radiância que vos escrevo estas apaixonadas
palavras ainda tingidas e dominadas pela embriaguez da ressaca em mim deixada
pelo novo álbum dos norte-americanos Condor & Jaybird. Batizado de ‘The
Glory’ e lançado no passado mês de Março, não só em formato digital –
com a sempre elogiável possibilidade de download gratuito – como sob a
forma física de CD e vinil numa edição autoral através da sua página de Bandcamp
oficial, este quarto trabalho de longa duração suspirado pelo quarteto
enraizado na cidade de Moline (localizada no interior do estado
americano de Illinois) floresce um onírico, primaveril, pastoril e
edénico Psychedelic Rock de melódica lisergia, que – de forma tímida, fluída
e muito discreta – se vai camuflando e instalando num agradável, sublimado,
apaladado e venerável Psychedelic Pop de traje sessentista. A sua
sonoridade verdadeiramente mística, etérea, vaporosa e lírica tem o condão de nos fascinar,
embevecer e pacificar os sentidos, escoando e desaguando toda a nossa
espiritualidade num universo nirvânico que nos climatiza e nebuliza do primeiro
ao derradeiro tema. De olhar eclipsado, lábios mordidos, sorriso inextinguível
e cabeça suavemente baloiçada de ombro a ombro, somos capturados, enternecidos
e enfeitiçados pela anestésica, santificada e feérica beatitude de ‘The Glory’.
Deixem-se contagiar e serpentear à sedutora boleia de duas guitarras
paradisíacas que se exteriorizam em suavizantes, ensolarados e deslumbrantes
acordes, e borbulhantes, alucinógenos e extravagantes solos, um relaxado baixo
de reverberação flutuante, ociosa e petrificante, um envolvente sintetizador de
intrigante nebulosidade sideral, uma bateria pensativa que trauteia paulatinamente
toda esta idílica atmosfera com a sua ritmicidade de tez cintilante, absorta e apaziguante,
um saltitante piano de harmonizados, estéticos e inspirados bailados, e ainda uma
voz sedosa, espectral e radiosa – escoltada e sombreada por um populoso e
luminoso coro vocal de essência angelical – que capitaneia toda esta fabulosa
excursão pelas verdejantes, frondosas e esplendorosas planícies sonoras de ‘The
Glory’ que se distendem e renovam até onde a vista consegue alcançar.
Este é um álbum genuinamente bem-disposto, de fácil digestão e devoção, que nos
namora do primeiro ao último minuto. Deixem-se dissolver e mitigar neste oásis
sensorial, e testemunhar na primeira pessoa um dos registos mais afáveis e lenitivos
lançados até ao momento em 2020. Não vai ser fácil içar as pálpebras e
aceitar o desconfortável silêncio que se lhe segue.
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