terça-feira, 14 de abril de 2020

Review: ⚡ Condor & Jaybird - 'The Glory' (2020) ⚡

É regressado de um imersivo, meditativo e purificante banho de perfumada radiância que vos escrevo estas apaixonadas palavras ainda tingidas e dominadas pela embriaguez da ressaca em mim deixada pelo novo álbum dos norte-americanos Condor & Jaybird. Batizado de ‘The Glory’ e lançado no passado mês de Março, não só em formato digital – com a sempre elogiável possibilidade de download gratuito – como sob a forma física de CD e vinil numa edição autoral através da sua página de Bandcamp oficial, este quarto trabalho de longa duração suspirado pelo quarteto enraizado na cidade de Moline (localizada no interior do estado americano de Illinois) floresce um onírico, primaveril, pastoril e edénico Psychedelic Rock de melódica lisergia, que – de forma tímida, fluída e muito discreta – se vai camuflando e instalando num agradável, sublimado, apaladado e venerável Psychedelic Pop de traje sessentista. A sua sonoridade verdadeiramente mística, etérea, vaporosa e lírica tem o condão de nos fascinar, embevecer e pacificar os sentidos, escoando e desaguando toda a nossa espiritualidade num universo nirvânico que nos climatiza e nebuliza do primeiro ao derradeiro tema. De olhar eclipsado, lábios mordidos, sorriso inextinguível e cabeça suavemente baloiçada de ombro a ombro, somos capturados, enternecidos e enfeitiçados pela anestésica, santificada e feérica beatitude de ‘The Glory’. Deixem-se contagiar e serpentear à sedutora boleia de duas guitarras paradisíacas que se exteriorizam em suavizantes, ensolarados e deslumbrantes acordes, e borbulhantes, alucinógenos e extravagantes solos, um relaxado baixo de reverberação flutuante, ociosa e petrificante, um envolvente sintetizador de intrigante nebulosidade sideral, uma bateria pensativa que trauteia paulatinamente toda esta idílica atmosfera com a sua ritmicidade de tez cintilante, absorta e apaziguante, um saltitante piano de harmonizados, estéticos e inspirados bailados, e ainda uma voz sedosa, espectral e radiosa – escoltada e sombreada por um populoso e luminoso coro vocal de essência angelical – que capitaneia toda esta fabulosa excursão pelas verdejantes, frondosas e esplendorosas planícies sonoras de ‘The Glory’ que se distendem e renovam até onde a vista consegue alcançar. Este é um álbum genuinamente bem-disposto, de fácil digestão e devoção, que nos namora do primeiro ao último minuto. Deixem-se dissolver e mitigar neste oásis sensorial, e testemunhar na primeira pessoa um dos registos mais afáveis e lenitivos lançados até ao momento em 2020. Não vai ser fácil içar as pálpebras e aceitar o desconfortável silêncio que se lhe segue.

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