Da grande e populosa Cidade
do México chega-nos o homónimo álbum de estreia do jovem quinteto Sei
Still. Lançado muito recentemente pela mão do selo discográfico londrino Fuzz
Club sob a forma física de vinil, este anestésico, envolvente e sidérico registo
da promissora formação azteca vem irrigado, oxigenado e deificado por um deslumbrante,
imersivo, lenitivo e hipnotizante Krautrock de propensão astral que combina históricas influências
de natureza germânica como os icónicos CAN e Neu! com os místicos sopros
orientais bafejados por consagradas referências da contemporaneidade como Kikagaku
Moyo e Minami Deutsch. A sua sonoridade genuinamente enfeitiçante, enigmática,
cósmica e narcotizante – devidamente motorizada e pautada pela célebre batida motorik
– embala e dissolve o ouvinte numa vertiginosa, extasiante e sinuosa hipnose que
o canaliza rumo aos ensolarados areais da tão ambicionada ataraxia. De pupilas
dilatadas, olhar reflexivo, cabeça baloiçante e alma fascinada, somos absorvidos,
sedados, acariciados e seduzidos pela etérea e quimérica ondulação de Sei
Still que de forma pronta nos desancora da gravidade terrestre e arremessa na
longínqua direcção da íntima e solitária vacuidade celestial. Aprisionados a
este encantador universo de clima onírico e desígnio ritualístico, somos
massajados e purificados por duas guitarras jubilosas de acordes cativantes e solos
vagueantes, um nebuloso sintetizador de intrigante ressonância alienígena, um
baixo murmurante de pulsante reverberação, uma estimulante bateria compenetrada
numa ritmicidade constante, e uma voz messiânica que voa e ecoa pelos desdobráveis e infindáveis firmamentos de um melancólico Cosmos em imperturbável expansão. ‘Sei
Still’ é um esfíngico álbum de propriedade terapêutica e beleza devocional que nos inunda todos
os membros e sentidos com um poderoso e duradouro soporífero via auditivo. Deixem-se
capitanear e velejar ao sabor destes druidas mexicanos pelos pacíficos oceanos que
preenchem todos os grandiosos desfiladeiros da nossa espiritualidade, e sintam-se espernear,
embevecer e reconfortar pela tântrica maviosidade de um álbum visceralmente meditativo
capaz de domesticar e amansar a mais turbulenta e maliciosa das almas.
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