quarta-feira, 15 de abril de 2020

Review: ⚡ Sei Still - 'Sei Still' (2020) ⚡

Da grande e populosa Cidade do México chega-nos o homónimo álbum de estreia do jovem quinteto Sei Still. Lançado muito recentemente pela mão do selo discográfico londrino Fuzz Club sob a forma física de vinil, este anestésico, envolvente e sidérico registo da promissora formação azteca vem irrigado, oxigenado e deificado por um deslumbrante, imersivo, lenitivo e hipnotizante Krautrock de propensão astral que combina históricas influências de natureza germânica como os icónicos CAN e Neu! com os místicos sopros orientais bafejados por consagradas referências da contemporaneidade como Kikagaku Moyo e Minami Deutsch. A sua sonoridade genuinamente enfeitiçante, enigmática, cósmica e narcotizante – devidamente motorizada e pautada pela célebre batida motorik – embala e dissolve o ouvinte numa vertiginosa, extasiante e sinuosa hipnose que o canaliza rumo aos ensolarados areais da tão ambicionada ataraxia. De pupilas dilatadas, olhar reflexivo, cabeça baloiçante e alma fascinada, somos absorvidos, sedados, acariciados e seduzidos pela etérea e quimérica ondulação de Sei Still que de forma pronta nos desancora da gravidade terrestre e arremessa na longínqua direcção da íntima e solitária vacuidade celestial. Aprisionados a este encantador universo de clima onírico e desígnio ritualístico, somos massajados e purificados por duas guitarras jubilosas de acordes cativantes e solos vagueantes, um nebuloso sintetizador de intrigante ressonância alienígena, um baixo murmurante de pulsante reverberação, uma estimulante bateria compenetrada numa ritmicidade constante, e uma voz messiânica que voa e ecoa pelos desdobráveis e infindáveis firmamentos de um melancólico Cosmos em imperturbável expansão. ‘Sei Still’ é um esfíngico álbum de propriedade terapêutica e beleza devocional que nos inunda todos os membros e sentidos com um poderoso e duradouro soporífero via auditivo. Deixem-se capitanear e velejar ao sabor destes druidas mexicanos pelos pacíficos oceanos que preenchem todos os grandiosos desfiladeiros da nossa espiritualidade, e sintam-se espernear, embevecer e reconfortar pela tântrica maviosidade de um álbum visceralmente meditativo capaz de domesticar e amansar a mais turbulenta e maliciosa das almas.

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