Da cidade de St. Louis
(localizada no estado americano do Missouri) chega-nos o novo álbum do
quarteto Apex Shrine e um dos meus favoritos de 2020. De
denominação homónima e acabado de ser lançado sob o exclusivo formato digital
através da sua página de Bandcamp oficial, este ensolarado, refrescante,
galante e aromatizado registo de longa duração traz-nos o exótico e requintado psicadelismo
de infusão jazzística superiormente pincelado pelos clássicos
nova-iorquinos Sweet Smoke, o ácido e electrizante Blues Rock entornado
pelos virtuosos neozelandeses The Human Instinct, o erótico e dançante Boogie
Rock fervido pelos icónicos texanos ZZ Top e ainda o dinâmico e entusiástico
Hard Rock à boa moda dos lendários canadianos RUSH. A sua
sonoridade de essência divertida, deslumbrante, contagiante e diversificada – exemplarmente
condimentada a um carismático revivalismo fielmente resgatado das saudosas décadas
de 1960 e 1970 que tanto me apraz – é sublimemente desdobrada e airosamente passeada
pelas verdejantes, primaveris e apaziguantes planícies que alcatifam toda uma
paisagem bucólica de extensão a perder de vista. De sorriso imortalizado no
rosto, olhar maravilhado e semi-selado, corpo serpenteante e alma embriagada de
uma satisfação impossível de contrariar, somos cortejados, embevecidos e
conduzidos pela afrodisíaca musicalidade de ‘Apex Shrine’ à delirante,
paradisíaca e estonteante boleia de duas vozes aparentadas de tez aveludada, suavizante,
afagante e melificada, duas guitarras distintas que se manifestam em maviosos, simpáticos,
tórridos e melodiosos Riffs de fácil digestão e imediata fascinação, e na
orgásmica redenção de aliciantes, caprichosos, donairosos e uivantes solos
capazes de nos tocar e massajar as mais erógenas zonas do cérebro, um murmurante
baixo groovy de bafejo hipnótico e vagueante que se conduz e nos seduz ao
volante de linhas relaxadas, quentes, fluídas e sombreadas, e ainda uma galopante
bateria de rédeas firmemente empunhadas e esporas afiadas que tiquetaqueia com incitante
ritmicidade toda esta sublimada e endeusada digressão pelos frondosos e copiosos
oásis de uma natureza há muito entregue a si mesma. ‘Apex Shrine’
é um álbum portador de uma refinada beleza idílica que nos mitiga e inebria o
espírito, recostando-o num inamovível estádio de perfeito bem-estar. Uma obra mirífica
– de encanto rural – que nos transporta o imaginário para uma purificante época
de bondade, harmonia e simplicidade caída há muito em desuso, onde os riachos
correm livremente, as gargalhadas são trazidas pelo vento, os pássaros
conversam graciosamente entre si, e todo um vibrante, vistoso e ofuscante verdume
banha a infinitude de um vale aureolado e canonizado pelo Sol poente. Deixem-se
bronzear, extasiar e purificar pelos seus adoráveis temas de natureza
radiofónica, e vivenciar de forma detida, afeiçoada e embriagada toda a diamantina
beatitude espelhada por um dos trabalhos mais envolventes e admiráveis do ano.
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