Da
cidade-capital de Moscovo chega-nos o novo álbum de estúdio do
híbrido e populoso colectivo russo The OMY que pulando e
foliando de género em género, vão surpreendendo e fascinando o ouvinte com a
sua inesgotável capacidade metamorfose sonora. De identificação homónima e
oficialmente lançado hoje mesmo através das mais variadas plataformas digitais,
este renovado, complexo e frutado cocktail de ingestão via
auditiva é magistralmente elaborado por um radiante, exótico, onírico e
deslumbrante Psychedelic Rock de clima veraneio, um
radiofónico, despretensioso, ocioso e agradável Indie Rock de
baladas fluídas e descomplicadas, um atordoante, virtuoso, impetuoso e
extravagante Free-Jazz de ousadas aproximações a um intuitivo,
abstracto e inventivo Avant-Garde de fronteiras descosidas, um
nocturno, outonal, misterioso e soturno Dark-Folk tecido a uma
sombria e enlutada harmonia, e ainda um vaporoso, ritmado, arrojado e
audacioso Trip Hop vocalizado e doutrinado na sua língua
nativa. A engenhosa, inteligente e dialogante conjugação entre todos estes
géneros musicais de ADN teoricamente incompatíveis, é posta em prática de uma forma verdadeiramente líquida, subtil e espontânea, fazendo assim com que nenhum ínfimo e arenoso grão de estranheza seja identificado pela engrenagem da sua ingestão sonora. ‘The OMY’ é
um registo imensamente eclético – de excentricidade carnavalesca e contornos
épicos – superiormente orquestrado por uma profusa e esdrúxula orgia
instrumental de apurada simbiose onde se notabiliza e pavoneia uma guitarra
quimérica de acordes delicadamente dedilhados a desarmante sublimidade, um
baixo bafejante de linhas murmurantes, hipnóticas e dançantes, uma magnetizante
bateria que – aliada a uma imersiva percussão tribalista – se lança numa dinâmica, colorida e vistosa marcha
marcadamente orientada e condimentada pelo Hip Hop, um gritante e serpenteante saxofone barítono de uivantes, afrodisíacos e esvoaçantes bailados, um mágico sintetizador de essência cósmica que ausculta formosos coros celestiais suspirados pelos astros, um melódico e melancólico piano de notas saltitantes, acrobática, enfáticas e petrificantes, e uma voz profética de tez estival, cristalina, fresca e angelical que sobrevoa de forma leve e vaporosa toda esta edénica, feérica e catalisadora alquimia sensorial. Oscilando entre suavizantes, afáveis, letárgicas e inebriantes passagens integralmente banhadas pelos tímidos e derradeiros raios emanados pelo Sol crepuscular, e fogosas, efervescentes, vibrantes e espalhafatosas detonações de uma súbita e inestancável expurgação e inflamação instrumental, 'The OMY' é um álbum de aspecto camaleónico que me prendera e conquistara com a sua curiosa personalidade capitaneada pela ambiguidade e multiplicidade. Um registo nutrido e locomovido a composições mescladas, labirínticas e inesperadas que decerto saciarão o apetite dos ouvidos mais eruditos e descomplexados. Bronzeiem-se na sua sumarenta, aromática e refrescante tropicalidade, e vivenciem um dos trabalhos mais originais do ano.
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