segunda-feira, 25 de maio de 2020

Review: ⚡ The OMY - 'The OMY' (2020) ⚡

Da cidade-capital de Moscovo chega-nos o novo álbum de estúdio do híbrido e populoso colectivo russo The OMY que pulando e foliando de género em género, vão surpreendendo e fascinando o ouvinte com a sua inesgotável capacidade metamorfose sonora. De identificação homónima e oficialmente lançado hoje mesmo através das mais variadas plataformas digitais, este renovado, complexo e frutado cocktail de ingestão via auditiva é magistralmente elaborado por um radiante, exótico, onírico e deslumbrante Psychedelic Rock de clima veraneio, um radiofónico, despretensioso, ocioso e agradável Indie Rock de baladas fluídas e descomplicadas, um atordoante, virtuoso, impetuoso e extravagante Free-Jazz de ousadas aproximações a um intuitivo, abstracto e inventivo Avant-Garde de fronteiras descosidas, um nocturno, outonal, misterioso e soturno Dark-Folk tecido a uma sombria e enlutada harmonia, e ainda um vaporoso, ritmado, arrojado e audacioso Trip Hop vocalizado e doutrinado na sua língua nativa. A engenhosa, inteligente e dialogante conjugação entre todos estes géneros musicais de ADN teoricamente incompatíveis, é posta em prática de uma forma verdadeiramente líquida, subtil e espontânea, fazendo assim com que nenhum ínfimo e arenoso grão de estranheza seja identificado pela engrenagem da sua ingestão sonora. ‘The OMY’ é um registo imensamente eclético – de excentricidade carnavalesca e contornos épicos – superiormente orquestrado por uma profusa e esdrúxula orgia instrumental de apurada simbiose onde se notabiliza e pavoneia uma guitarra quimérica de acordes delicadamente dedilhados a desarmante sublimidade, um baixo bafejante de linhas murmurantes, hipnóticas e dançantes, uma magnetizante bateria que – aliada a uma imersiva percussão tribalista – se lança numa dinâmica, colorida e vistosa marcha marcadamente orientada e condimentada pelo Hip Hop, um gritante e serpenteante saxofone barítono de uivantes, afrodisíacos e esvoaçantes bailados, um mágico sintetizador de essência cósmica que ausculta formosos coros celestiais suspirados pelos astros, um melódico e melancólico piano de notas saltitantes, acrobática, enfáticas e petrificantes, e uma voz profética de tez estival, cristalina, fresca e angelical que sobrevoa de forma leve e vaporosa toda esta edénica, feérica e catalisadora alquimia sensorial. Oscilando entre suavizantes, afáveis, letárgicas e inebriantes passagens integralmente banhadas pelos tímidos e derradeiros raios emanados pelo Sol crepuscular, e fogosas, efervescentes, vibrantes e espalhafatosas detonações de uma súbita e inestancável expurgação e inflamação instrumental, 'The OMY' é um álbum de aspecto camaleónico que me prendera e conquistara com a sua curiosa personalidade capitaneada pela ambiguidade e multiplicidade. Um registo nutrido e locomovido a composições mescladas, labirínticas e inesperadas que decerto saciarão o apetite dos ouvidos mais eruditos e descomplexados. Bronzeiem-se na sua sumarenta, aromática e refrescante tropicalidade, e vivenciem um dos trabalhos mais originais do ano.

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