sábado, 6 de junho de 2020

Review: ⚡ ElonMusk - 'As Your Wanderer Taps At The Invisible Gate' (2020) ⚡

Da cidade de Nashville (capital do estado do Tennessee, EUA) chega-nos o narcotizante, etéreo e enfeitiçante álbum de estreia do jovem tridente instrumental ElonMusk. Intitulado de ‘As Your Wanderer Taps At The Invisible Gate’ e disponibilizado através dos formatos físicos de CD e cassete numa edição ultra-limitada e de carimbo autoral, bem como num futuro lançamento sob a forma de vinil agendado para o mês de Setembro pela mão do fresco selo discográfico sediado em território germânico Worst Bassist Records, este primeiro trabalho de longa duração dos norte-americanos vem nebulizado e mistificado por um imersivo, viajante, enfeitiçante e lenitivo Space Rock vigorosamente empoeirado e norteado a um sónico, inventivo e exótico experimentalismo sem fronteiras que se dissolve, desmaia e revolve nas abissais profundezas de um desmaiado, caleidoscópico, anestésico e delirado psicadelismo de feições Doom'escas irrigado a carregada toxicidade. De instrumentos apontados ao vertiginoso negrume cósmico, a sua sonoridade morfínica, intrigante, hipnotizante e distópica convida o ouvinte a embarcar numa evolutiva, fabulosa e criativa odisseia – de velas içadas e sopradas ao sabor dos ébrios suspiros astrais – pelo lado mais inabitado, prostrado e ocultista da vacuidade sideral. Longe da chamejante luminosidade que reveste as fornalhas estelares, somos perseguidos, envolvidos e amortalhados pela densa e tensa obscuridade que nos enluta a alma e sepulta num inamovível estádio de reconfortante melancolia. De pálpebras tombadas, olhar eclipsado, semblante entorpecido e cabeça pesada e pausadamente baloiçada de ombro em ombro, somos sedados, adormecidos e conduzidos para os braços de uma poderosa narcose atestada a letargia que nos amortece e embevece ao longo de 38 minutos. Submersos neste oceano de torpor que nos paralisa os membros e amordaça os sentidos e embacia a lucidez, testemunhamos a misticidade de uma guitarra profética que se manifesta em solos esvoaçantes, ácidos, atordoados e ziguezagueantes, a quente bafagem de um murmurante baixo que se adensa em linhas possantes, magnéticas e ondeantes, a catártica ritmicidade de uma bateria locomovida a absorvente pulsação, e a alienígena excentricidade de um sintetizador alquimista que pulveriza toda a ritualística atmosfera de ‘As Your Wanderer Taps At The Invisible Gate’ com uma inesgotável profusão de efeitos celestiais. Este é um álbum de essência tentadora, oxigenado por um intoxicante e incessante obscurantismo, que nos fascina e domina do primeiro ao derradeiro minuto. Deixem-se sombrear pelas esfíngicas trevas de ElonMusk, e presenciem de forma submissa e devota toda a demoníaca liturgia de um dos registos mais enigmáticos do ano. Não será fácil regressar desta labiríntica e esotérica hipnose que nos profanara a religiosidade e canalizara pelas inexploradas entranhas de um bocejante Cosmos convertido ao paganismo.

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