Da cidade de Nashville
(capital do estado do Tennessee, EUA) chega-nos o narcotizante,
etéreo e enfeitiçante álbum de estreia do jovem tridente instrumental ElonMusk. Intitulado
de ‘As Your Wanderer Taps At The Invisible Gate’ e disponibilizado
através dos formatos físicos de CD e cassete numa edição ultra-limitada e de carimbo
autoral, bem como num futuro lançamento sob a forma de vinil agendado para o
mês de Setembro pela mão do fresco selo discográfico sediado em território germânico
Worst Bassist Records, este primeiro trabalho de longa duração dos
norte-americanos vem nebulizado e mistificado por um imersivo, viajante, enfeitiçante
e lenitivo Space Rock vigorosamente empoeirado e norteado a um sónico,
inventivo e exótico experimentalismo sem fronteiras que se dissolve, desmaia
e revolve nas abissais profundezas de um desmaiado, caleidoscópico, anestésico e delirado
psicadelismo de feições Doom'escas irrigado a carregada toxicidade. De instrumentos apontados ao vertiginoso
negrume cósmico, a sua sonoridade morfínica, intrigante, hipnotizante e
distópica convida o ouvinte a embarcar numa evolutiva, fabulosa e criativa odisseia
– de velas içadas e sopradas ao sabor dos ébrios suspiros astrais – pelo lado
mais inabitado, prostrado e ocultista da vacuidade sideral. Longe da chamejante
luminosidade que reveste as fornalhas estelares, somos perseguidos, envolvidos e
amortalhados pela densa e tensa obscuridade que nos enluta a alma e sepulta num
inamovível estádio de reconfortante melancolia. De pálpebras tombadas, olhar
eclipsado, semblante entorpecido e cabeça pesada e pausadamente baloiçada de
ombro em ombro, somos sedados, adormecidos e conduzidos para os braços de uma
poderosa narcose atestada a letargia que nos amortece e embevece ao longo de 38
minutos. Submersos neste oceano de torpor que nos paralisa os membros e amordaça
os sentidos e embacia a lucidez, testemunhamos a misticidade de uma guitarra
profética que se manifesta em solos esvoaçantes, ácidos, atordoados e ziguezagueantes,
a quente bafagem de um murmurante baixo que se adensa em linhas possantes, magnéticas
e ondeantes, a catártica ritmicidade de uma bateria locomovida a absorvente
pulsação, e a alienígena excentricidade de um sintetizador alquimista que pulveriza
toda a ritualística atmosfera de ‘As Your Wanderer Taps At The Invisible
Gate’ com uma inesgotável profusão de efeitos celestiais. Este é um
álbum de essência tentadora, oxigenado por um intoxicante e incessante obscurantismo, que nos fascina e domina do
primeiro ao derradeiro minuto. Deixem-se sombrear pelas esfíngicas trevas de ElonMusk,
e presenciem de forma submissa e devota toda a demoníaca liturgia de um dos registos
mais enigmáticos do ano. Não será fácil regressar desta labiríntica e esotérica hipnose que
nos profanara a religiosidade e canalizara pelas inexploradas entranhas de um bocejante Cosmos convertido
ao paganismo.
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