Da cidade-capital grega de Atenas
chega-nos o renovado sonho musicado do quimérico quinteto helénico Holy
Monitor. Intitulado de ‘This Desert Land’ e lançado no
primeiro vislumbre do passado mês de Junho sob a exclusiva forma digital através
da sua página de Bandcamp oficial, este fabuloso e caprichoso EP prende uma sublimada,
onírica, paradísica e embriagada envolvência onde se envaidece, naufraga e embevece um magnético,
imersivo, sidérico e sedativo Krautrock em harmoniosa e dialogante conjugação com um viajante,
mágico, enigmático e enfeitiçante Space Rock, um deslumbrante, ensolarado,
perfumado e narcotizante Psychedelic Rock, e ainda um estimulante,
melódico, radiofónico e extasiante Indie Rock. A sua sonoridade de tez caramelizada,
afrodisíaca e arrebatada tem o especial condão de embaciar a nossa lucidez e mergulhar
os nossos sentidos num profundo, delirante e ofuscante estádio de deleitável embriaguez.
Num admirável equilíbrio entre a doce letargia e a exótica euforia, somos afunilados
e escoados numa anestésica, profética e nirvânica hipnose que desagua a nossa espiritualidade
no edénico areal do tão almejado transe sensorial. De alma atordoada,
olhar eclipsado e corpo balanceado e compenetrado num movimento serpenteante, comungamos toda esta febril saturação de Holy
Monitor, farolizados e guiados por uma voz messiânica de paladar aveludado,
tropical, sensual e melificado, duas deliciosas guitarras de esponjosos, místicos,
caleidoscópicos e lustrosos acordes, e ziguezagueantes, alucinados, alcoolizados
e ecoantes solos de extravagância arábica, um baixo ensonado de reverberação arrastada,
pulsante, ondeante e sombreada, uma esplendorosa bateria de ritmicidade detida,
hipnotizante, tranquilizante e voluptuosa,
e ainda um magnífico teclado de arejados, desarmantes, intrigantes e aromatizados
bailados que ensaboa e acolchoa toda a jubilosa atmosfera de ‘This Desert
Land’ com uma endeusada, encantada e diluviana fluorescência. Este é um registo verdadeiramente apaixonante, precioso e obcecante que me incitara a
ouvi-lo e apreciá-lo vezes e vezes sem conta. São apenas 16 minutos integralmente
empoeirados de uma tangível utopia onde o ouvinte se esperneia, enleva e hasteia
ao mais genuíno estádio epicurista. Uma incansável massagem cerebral e um lúbrico
afago sensorial que nos mantêm imortalizados num inenarrável orgasmo espiritual.
Banhem-se e bronzeiem-se na louvável, deífica e insuperável beatitude
resplandecida pelos gregos Holy Monitor, e experienciem toda a ataráxica
alquimia nebulizada pelos poros de um dos EP’s mais magistrais de 2020.
Não vai ser fácil – ou sequer desejável – emergir e despertar desta entorpecedora, estupenda
e sonhadora nebulosidade que nos amortalhara e oxigenara do primeiro ao
derradeiro tema.
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