Da cidade costeira de Melbourne
(situada na Austrália) chega-nos uma das mais aprazíveis surpresas sonoras do
ano. ‘Slypon! Alive at Fitzroy Street’ dá nome ao adorável álbum de
estreia do jovem quinteto Slypon que fora lançado no passado mês de maio
sob a exclusiva forma digital. Orquestrado por um delicioso cocktail
musical de receita complexa e paladar tropical, que ostenta um ensolarado,
sumarento, melífluo e sublimado Psychedelic Rock de clima West Coast,
um majestoso, dançante, serpenteante e lustroso Progressive Rock de reconhecível sotaque
Canterbury’eano e ainda um exuberante, místico, carnavalesco
e hipnotizante Jazz Fusion de vocação arábica, este primeiro trabalho dos inspiradores Slypon traz-nos um irresistível exotismo capaz de fazer salivar os
nossos ouvidos. Integralmente sobrevoado e farolizado por uma carismática
atmosfera setentista, esta irretocável obra do colectivo australiano
respira e transpira uma sonoridade refrescante, inebriada, condimentada e
extasiante que decora o imaginário do ouvinte com paradisíacas paisagens de ardência
veraneia. De olhar envidraçado, semblante anestesiado, sorriso perpetuado no
rosto e alma plenamente arrebatada, somos passeados pelas fervilhantes, bronzeadas
e ziguezagueantes estradas de Big Sur enquanto de narinas dilatadas aspiramos
a fresca e salgada brisa suspirada pelo Oceano Pacífico e de lucidez embaciada
procuramos resistir à tentação de mergulhar num súbito desmaio de prazer. Na
génese desta espirituosa, frutada, sagrada e airosa bebida de consumo via
auditivo está uma exótica guitarra de inspiração emprestada pelo virtuosismo de
Santana e Peter Green que desdobra maviosos, enfeitiçantes,
relaxantes e sumptuosos acordes e vomita borbulhantes, orgiásticos, bombásticos
e atordoantes solos de elevada toxicidade, um baixo bamboleante de linhas ondeantes,
magnéticas, proféticas e magnetizantes, uma bateria jazzística que –
aliada a uma percussão de extravagância tribalista – tiquetaqueia com
delicadeza, sensibilidade, criatividade e destreza, um lírico piano Fender
Rhodes de notas saltitantes, simétricas e sonantes, um órgão Farfisa
de intrigantes, litúrgicas e revigorantes melodias, toda uma panóplia de cósmicos
sintetizadores que sulfatam a ambiência do disco com uma harmoniosa poeira estelar,
um gracioso clarinete de envolventes narrativas fabulares, uma vistosa gaita de
fole detidamente entregue aos seus excêntricos bailados de aura celta, e ainda tímidas
aparições de vocais entorpecidos, sedosos, melodiosos e amolecidos que flutuam vagarosamente
pelo sereno caudal deste verdadeiro sonho acordado. Conseguem imaginar um concordante diálogo instrumental entre o esplendoroso psicadelismo espelhado pelos
californianos Monarch e a extravagância pérsica vagabundeada pelos texanos
Khruangbin? Se sim, chegaram aos nirvânicos domínios de Slypon.
Um real oásis de afago espiritual e sensorial que nos lenifica, seduz, conduz e purifica
do primeiro ao derradeiro tema. São 52 minutos atestados de uma afrodisíaca beatitude
capaz de expurgar e canonizar a alma de quem nele se deixar absorver, namorar e
embevecer. Decididamente um dos mais cativantes álbuns do ano está aqui, na
impecável estreia discográfica de uma banda que tem tanto de talentosa quanto
de auspiciosa. Não vai ser fácil escutá-lo apenas uma vez, duas ou três. Quatro ou cinco. Ou seis.
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