Da Holanda chega-nos ‘Nugrybauti’,
o segundo e novo trabalho de longa duração produzido pelo alucinante power-trio
Atlanta. Oficialmente lançada na segunda metade do precedente mês de
Julho tanto em formato digital como sob a forma física de vinil (reduzido a uma
edição ultra-limitada à prensagem de apenas 250 cópias rotuladas pela editora
discográfica local Lay Bare Recordings), esta extensível e apaixonante odisseia
de interiorização via auditiva pela desmedida vacuidade do Cosmos bocejante tem
como seu primordial combustível um intoxicante, imaginativo, expressivo e
delirante Heavy Psych – distorcido por um sónico experimentalismo
que nos atordoa a lucidez, e talhado a uma refrescante aura jazzística
que nos matiza a embriaguez – que pendula entre a euforizante, carnavalesca
e provocante efervescência e a relaxante, cinematográfica e extasiante quietude.
A sua sonoridade maravilhosamente complexa, de paisagens e climas desiguais, é norteada
e desenvolvida à boleia de intuitivas, exploratórias, enlouquecedoras e
criativas jam’s de natureza e destreza puramente instrumentais
provocam no ouvinte um inamovível estádio de ofuscante deslumbramento que o
climatiza ao longo dos seus respectivos 62 minutos de duração. De pés descalços,
enraizados nas bronzeadas e fervilhantes areias do deserto, e cabeça soterrada
na vertiginosa e visceral verticalidade do negrume cósmico, somos seduzidos e
conduzidos por uma uivante guitarra de exótico idioma Hendrix’eano
que se perde e encontra por entre extravagantes, esvoaçantes, orgiásticos e
estonteantes solos guiados a desarmante sagacidade e oleados a elevada
toxicidade, um baixo pesadamente murmurante de serpenteantes, densas, tensas e
ondeantes linhas sombreadas a fibrada reverberação, e uma bateria soberbamente Jazzy
que – com um toque lustroso, saltitante, libertino e harmonioso – tiquetaqueia
e capitaneia de forma airosa e graciosa toda esta temerária embarcação por nirvânicos
e revoltosos mares que a esperam nos inesperados horizontes de ‘Nugrybauti’.
Este é um álbum de estética veraneia onde a doce melancolia e a espirituosa
euforia convivem em alegre concordância. Velejando e naufragando por todo um profundo
espectro de emoções fortemente contrastadas, somos mutuamente sedados e agitados
pela heterógena musicalidade de Atlanta. Inalem a fresca brisa suspirada
pelas ondas do oceano e transpirem a vulcânica ardência que incendeia o
deserto. Diluam-se no fértil improviso deste tridente holandês e experienciem
todo o intenso encantamento farolizado pela magnetizante, admirável e dialogante
simbiose que cola e não mais descola os três instrumentos. Uma das mais arrebatadoras surpresas sonoras do
ano está aqui.
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