Poucos meses depois de Rafael
Denardi nos ter presenteado e alvoroçado com uma intensa dosagem de ardente,
vistoso, ostentoso e empolgante Heavy Blues – brilhantemente lavrado e chamejado
no seu fabuloso EP de estreia ‘Two Handfuls of Rock’ (nascido
no início do presente ano, e aqui descrito e devidamente elogiado) – eis
que este auspicioso, versátil e talentoso multi-instrumentista brasileiro
redirecciona agora a sua bússola para os apaixonantes territórios de um elaborado,
refrescante, deslumbrante e requintado Progressive Rock fielmente resgatado
dos dourados anos 70 e aqui hoje espelhado com um (in)discreto cunho pessoal.
Tal como a sua designação e respectivo artwork assim o sugerem, ‘Adios, Rick’ simboliza a sentida homenagem ao estimado e carismático baixo Rickenbacker
4003 que o autor natural da cidade de São Paulo entretanto
vendera. Responsável pela condução de todos os instrumentos que o cultivam e
pela criação da ilustração que o emoldura, Rafael Denardi tem neste seu novíssimo
e segundo EP (gravado em sua casa durante o período de quarentena a que o vírus COVID-19 obrigou a humanidade) um registo que decerto merecerá a fascinada e entusiasmada aprovação
de todos os devotos discípulos do clássico Prog Rock semeado e colhido
no fértil solo setentista. Tendo o seu lançamento oficial agendado para
o próximo dia 14 de Agosto através do exclusivo formato digital com o editorial
carimbo autoral, ‘Adios, Rick’ é um sólido trabalho digno de
conquistar a atenção das editoras discográficas fielmente dedicadas ao género
em que o mesmo se insere, e consequentemente promove-lo em formato físico para
gáudio de todos os seus ouvintes. Na génese de toda esta orgásmica simbiose
instrumental, reina um fibrótico baixo de reverberação ondulada, viçosa, melodiosa
e empolada, um glorioso órgão de frescas, esdrúxulas e principescas harmonias
desdobradas a um imersivo erotismo, uma operante bateria de toque lustroso,
acrobático, enfático e cuidadoso, e uma voz polida que deambula livre e
graciosamente por todo este cabaret musicado. Sintonizado nas mesmas
frequências de vultosas referências como Gentle Giant, Genesis, Atomic
Rooster, Camel e Uriah Heep, este renovado rasgo de irretocável
inspiração – inteiramente arquitectado e executado a uma só cabeça e duas mãos –
causara e conservara em mim todo um intenso turbilhão de cegante sedução que me
embriagara e arrebatara ao longo dos seus 18 minutos de extensão temporal. Este
é um registo verdadeiramente magistral – oxigenado a um irresistível revivalismo
que prontamente me hipnotizara e forçara a cair na sua tentação – e que apenas
peca pela sua curta durabilidade. Depois de dois EP’s desiguais no que à
tipologia sonora diz respeito (pois quanto à qualidade, o ponteiro continua a
garantir altas rotações), resta saber com que género de surpresa sonora Rafael
Denardi nos irá brindar na exploração do seu próximo trabalho. Isto, embora
seja uma evidência de que muito dificilmente o mesmo não será do meu inteiro
agrado e aqui seguidamente desmontado com recurso a sinceras palavras de apreço
e devoção.
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