Da cidade costeira de
Sydney (situada na Austrália) chega-nos a sublime fragância fabulosamente
suspirada por um dos álbuns – por mim – mais aguardados do corrente ano. ‘Monoliths’
é segundo trabalho de longa duração do adorável quinteto Turtle Skull
que acaba de ser lançado hoje mesmo tanto em formato digital como nos formatos
físicos de CD e vinil através da parceria discográfica que coliga o selo
germânico Kozmik Artifactz ao australiano Art As Catharsis. E se
a ele dedicava toda uma atestada expectativa, é justo começar por antecipar que
o mesmo não só a preenchera na totalidade como até extravasara as suas longínquas
costuras. Fundamentada num mântrico, celestial, estival e messiânico Psychedelic
Rock de reminiscências revivalistas e ambiências fantasistas, que tanto se nebuliza
e eteriza num deslumbrante, lenitivo, contemplativo e extasiante Krautrock
de imediata imersão e inesgotável fascinação, como se obscurece e enrijece num poderoso,
chamejante, electrizante e vigoroso Heavy Psych de ameaçadoras feições Doom’escas
e encrostado a efervescente efeito Fuzz, esta miraculosa obra tivera em mim um irreparável impacto sensorial que me escancarara as portas da percepção e catapultara para um mergulho nas profundezas da introspecção. Aprisionados num perpétuo
baloiçar gravitacional que nos ricocheteia entre a doce e letárgica melancolia
e a sedada e emancipadora euforia, somos seduzidos, abraçados e oxigenados pela mágica,
quimérica e embriagada nebulosidade sulfatada por Turtle Skull. Autoapelidada
de “Flower Doom”, a estética, profética e enfeitiçante sonoridade
de ‘Monoliths’ desabrocha um forte contraste entre o pesado
negrume e a leve luzência que convida o ouvinte a experienciar toda uma
panóplia de climas, aromas e sentimentos desiguais. De olhar petrificado, pálpebras
tombadas, sorriso imortalizado no rosto, espírito maravilhado e cabeça vagarosamente
balanceada de ombro em ombro, embarcamos numa consagrada peregrinação pelas mais
erógenas zonas do nosso Cosmos cerebral à catártica boleia de um translúcido,
ensolarado, evangélico e imaculado coro vocal de afago espiritual, uma afrodisíaca
guitarra de paladar oceânico que se envaidece em serpenteantes, magnéticos e ofuscantes
Riffs de textura arábica, e rubrica ácidos, extravagantes e delirados solos
de elevada toxicidade, um baixo modorrento de ondeantes, fluídas e murmurantes linhas
a capitanear uma diluviana reverberação, um intrigante sintetizador que
ausculta o misticismo segredado pelo espaço sideral, e ainda uma hipnótica bateria
que – de forma comprometida, airosa e absorvida – tiquetaqueia toda esta
reflexiva, inventiva e transformadora odisseia mental capaz de nos pacificar os
sentidos e massajar a alma sedenta de algo assim. De espalhar ainda elogiosas apreciações
ao caprichoso artwork de créditos apontados ao artista local Davey Fenn
que tão bem transportara para o domínio visual todo o ataráxico misticismo destilado
pelo colectivo australiano. ‘Monoliths’ é um sumarento néctar de propriedades nirvânicas que
em mim provocara uma abundante salivação. Um registo de beleza consumada que
vive da sensibilidade. Degustem esta deliciosa, encantadora e copiosa secreção
de interiorização auditiva e vivenciem de forma compenetrada, estarrecida e reverenciada
um dos álbuns mais edénicos dos últimos anos. Não vai ser nada fácil despertar
deste lúcido sonho superiormente musicado pelos druidas Turtle Skull e
dar à costa da lucidez que nos fora subtraída e sonegada do primeiro ao
derradeiro minuto. O Paraíso aqui tão perto, à distância de uma audição. Banhem-se e regozijem-se neste tangível oásis espiritual.
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