Depois de toda uma
discografia pautada pela vulcânica efervescência psicadélica (com excepção da
paradisíaca trilogia ‘Summer Sessions’), os abundantemente
apreciados Causa Sui ajustam agora a sua bússola na inexplorada direcção
da ataráxica envolvência de reconfortante efeito letárgico suspirada pelo eterno
crepúsculo de um verão já findado. ‘Szabodélico’ – oficialmente
lançado hoje mesmo pela insuspeita El Paraiso Records sob a forma física
de CD e vinil, e ainda nas extensões digitais de MP3 e FLAC para download
– representa essa subtil metamorfose de uma banda que nunca desilude quem nela
se refugia. Florescido de intuitivas, espaçadas, arejadas e imaginativas
improvisações, este novo álbum de estúdio soberbamente musicado pela prolífica formação
dinamarquesa encerra um verdadeiro oásis de afago sensorial e deslumbramento espiritual
que é oxigenado por utópicas paisagens de natureza ambiental, anestésica,
mística e experimental. Combinando um contemplativo, hipnótico, vaporoso e
imersivo Krautrock de paladar oriental, e um ensolarado, edénico,
profético e perfumado Psychedelic Rock de clima tropical, ‘Szabodélico’
serpenteia-se, flutua e formoseia-se de forma expansiva, sedutora e evolutiva pelas
aveludadas, cálidas e bronzeadas dunas de um balsâmico deserto que se
espreguiça até onde desmaia a esmorecida ondulação de um cristalino oceano de
luzência azul turquesa. De olhar selado pela corada resplandecência solar,
rosto embriagado pela fresca brisa, pés lambidos pelas línguas espumantes do
mar, e um sabor salino colado aos lábios, somos embalados pela sumarenta
sonoridade de ‘Szabodélico’ à afrodisíaca boleia de uma guitarra
endeusada que se ziguezagueia e esperneia em solos vistosos, caleidoscópicos, pérsicos
e airosos, um sussurrante baixo bafejado a linhas onduladas, leves, suaves e
aveludadas, um quimérico sintetizador de esfíngicos bailados condimentados e
embrumados a cósmico misticismo, e uma bateria jazzística de toque
polido, preciso, lustroso e acrobático que, em concordância com uma tribalista,
ritualista e carnavalesca percussão de suor latino, tiquetaqueia toda esta
sagrada peregrinação pelos intermináveis desertos da introspecção. Num plano
secundário soergue-se ainda uma exótica flauta transversal indiana (aka
Bansuri) com os seus sopros errantes, sedosos, faustosos e esvoaçantes que
sobrevoam dois dos treze temas presentes no álbum. De destacar ainda o artwork
minimalista de créditos apontados ao peculiar Jakob Skøtt (baterista da
banda e ilustrador residente na editora El Paraiso Records) que de forma
imaculada transpusera para o universo visual toda a veraneia vibração que a
música de ‘Szabodélico’ transpira no imaginário de quem a
vivencia. São 64 minutos de uma sedutora fluidez que nos cativa a dança-la de
forma compenetrada e fascinada. Um perfeito jacuzzi onde nos relaxamos,
absorvemos e extasiamos sem a mais pequena réstia de inquietação. Tal como o
seu nome sugere, ‘Szabodélico’ representa uma esmerada homenagem
de Causa Sui ao sofisticado, poético e consumado guitarrista húngaro Gábor Szabó,
que faroliza todas estas aventurosas, nirvânicas e espirituosas digressões.
Balanceiem o vosso corpo enfeitiçado, de membros flácidos e sentidos sedados,
ao sabor deste radioso regresso de uma das mais singulares bandas da minha vida,
e degustem um dos cocktails sonoros mais deliciosos de 2020. O paraíso
aqui tão perto, à distância de uma audição. Banhem-se e bronzeiem-se neste autentico Éden ventilado a quietude, doçura e beatitude.
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