Da populosa, movimentada e ruidosa
cidade de Nova Iorque (EUA) chega-nos o projecto recém-formado
pelo power-duo composto pelos amigos Adam Kriney (prolífico baterista
de Golden Grass) e Morgan McDaniel (guitarrista de Mirror
Queen). Num perfeito contraste com a azáfama gritada pela metrópole onde
reside, esta promissora parceria apelidada de Thunder Creek passeia-se
pelos esverdeados, idílicos e ensolarados prados de vastos céus azul turquesa, riachos de águas frescas e marulhantes, e esperançosos firmamentos incendiados pelo intenso bafo solar, balizados entre a segunda metade
dos anos 60 e a primeira dos 70, de onde facilmente se reconhecem e apaladam emblemáticas
influências da época como The Allman Brothers Band, Grateful Dead,
ZZ Top e The Byrds. Lançado nos primeiros dias do passado mês de
Novembro pela mão do modesto selo discográfico caseiro In For The Kill Records
em formato digital e numa ultra-limitada edição física em vinil (entretanto já
esgotada), ‘Dark Water Rising’ é um saboroso EP – detentor de uma
singeleza estilística de imediata fascinação, e de um espírito livre e
aventureiro que nos tinge o imaginário de uma doce nostalgia – que se formoseia
com base num colorido, divertido e deslumbrante Psychedelic Rock de
aroma vintage e clima West-Coast, num rural, estival e
contagiante Country Rock de feições rústicas, e ainda num dançante, erótico
e vibrante Boogie Rock de alma empoeirada. A sua sonoridade forrada a um
purificante revivalismo e maquilhada a tons sépia passeia-se pelas saudosas
memórias de uma vivência há muito caída em desuso. Tricotado por uma guitarra ácida
que floresce melodiosos, agradáveis e cheirosos Riffs e rubrica solos
uivantes, alucinados e ziguezagueantes, sombreado por um baixo murmurante de
reverberação pulsante, ondulada e magnetizante, esporeado por uma bateria jazzística
de pratos flamejantes e timbalões galopantes, e vocalizado por uma voz lustrosa,
simpática e harmoniosa, este aconchegante ‘Dark Water Rising’ ostenta – para meu transbordante regozijo – toda uma apaladada musicalidade
conjugada no pretérito, mas que conserva nos meandros das suas composições um
cunho bastante pessoal. São pouco mais de 20 minutos inteiramente norteados por
uma aura rural de fragância primaveril que nos afaga e embriaga os sentidos sequiosos
por experienciar algo assim. Recostem-se confortavelmente, respirem pausa e
profundamente, curvem a linha labial na direcção do sorriso, desmaiem as
pálpebras eclipsando o olhar maravilhado, balanceiem vagarosamente a cabeça de
ombro a ombro, e deixem-se dissolver, embalar e embevecer neste distante sonho
acordado. Um dos mais miríficos, paradisíacos e boémios EP’s de 2020 está aqui, nas
estarrecedoras paisagens sonoras de ofuscante beatitude a perder de vista sublimemente adubadas e desdobradas pelos Thunder Creek.
Links:
➥ Bandcamp
➥ In For The Kill Records
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