Depois de uma longa
estadia na residência editorial da muito conceituada Elektrohasch
(casa-mãe dos germânicos Colour Haze), que carimbara e promovera cinco dos seus
sete álbuns lançados até à data, o talentoso multi-instrumentista português Luís
Simões (ex-Blasted Mechanism) ao serviço de Saturnia acaba de
celebrar um vínculo contratual com o produtivo selo discográfico alemão Sultron
Records, e o primeiro fruto desta recém-formada relação está na iminência
de ser colhido e saboreado. Com o seu nascimento oficial calendarizado para o
dia de amanhã - sexta-feira, 26 de Março – através dos formatos físicos de CD e
vinil (ambos limitados à prensagem de apenas 500 cópias disponíveis), este
muito aguardado oitavo álbum, apelidado de ‘Stranded in the Green’,
é consequência da enriquecedora exposição de Saturnia à religiosidade de
deus Baco. Gravado dentro de uma moldura vínica, em perfeita comunhão com a
natureza de vestes primaveris e onde toda uma resplandecência bucólica aliada a
uma devoção mitológica fermentam e materializam este mélico e espirituoso
néctar de ingestão auditiva, esta renovada, balsâmica e elaborada obra
tricotada a duas mãos embriaga, afaga e reconforta o ouvinte com base num meditativo,
ensolarado e imersivo Psychedelic Rock em afrodisíaca consonância com um
lenitivo, hipnótico e criativo Space Rock. Oxigenada por um aventuroso
experimentalismo que explora e perscruta os domínios alienígenas, e nos
empoeira a alma de nebulosidade estelar, a onírica, arejada, espaçada e
ritualística sonoridade de ‘Stranded in the Green’ gravita em
órbita de um imperturbável estádio de plena tranquilidade. São 57 minutos –
repartidos por nove temas (o vinil conta com sete faixas) de almas aparentadas
– de inescapável hipnose pelos nirvânicos trilhos da introspecção. Perfilando e
combinando toda uma panóplia de instrumentos – onde se lavram deslumbrantes
diálogos entre uma messiânica guitarra de incessantes, alucinógenos e
serpenteantes solos, um murmurante baixo de sombreada, densa e bafejada
reverberação, uma cítara endeusada de extravagantes, proféticos e
revitalizantes bailados, um místico gong de prolongados bocejos repletos
de luz estival e empoderamento oriental, um cósmico sintetizador de
majestáticos coros celestiais, um litúrgico mellotron de mugidos polifónicos,
intrigantes e melancólicos, um clássico piano Rhodes de teclas
harmoniosas, cheirosas e saltitantes, uma tambura indiana de magnéticos, absorventes
e enigmáticos véus sonoros, chimes de colorida e tilintante luzência, e uma bateria tribalista de compasso lento e minimalista
– à sua voz macia, etérea e xamânica, Saturnia conta ainda com as
presenças dos convidados Ana Vitorino (que embeleza o tema introdutório
do disco com a sua recitada voz de entoação fantasmagórica e dramática) e Winga
(que enriquece a percussão do segundo tema a trote de um acrobático djambé).
‘Stranded in the Green’ é um álbum de textura campesina, clima
ensolarado, coloração esverdeada e afago espiritual que nos mantém suspensos
num mântrico zen. Um registo de doutrina evangelista que nos alinha os chakras,
eteriza e canaliza rumo ao tão desejado transe religioso. Bronzeiem-se,
prazenteiem-se e canonizem-se numa das melhores colheitas da sua respeitável
discografia.
Links:
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➥ Sulatron Records
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