Depois de
celebrado o seu impactante e transformador álbum de estreia ‘Woodland
Rites’ (aqui descortinado e imoderadamente reverenciado) no ano de 2019, eis
que o afamado quinteto londrino Green Lung – que num curtíssimo espaço
de tempo atingira uma popularidade meteórica – presenteia agora todos os seus
devotos peregrinos com o tão desejado lançamento do seu segundo trabalho de
longa duração, batizado de ‘Black Harvest’ e carimbado com o selo
da influente editora escandinava Svart Records através dos formatos físicos
de CD e vinil. Nesta sua nova colheita, maturada pela negra radiância e fermentada
por um fibroso, inflamante, excitante e imperioso Heavy Rock de celebração
ocultista, e um intrigante, sinuoso, pomposo e enfeitiçante Heavy Prog de pura musculatura setentista, o colectivo sacerdotal britânico prossegue com a sua
demoníaca liturgia de ornamentadas orações apontadas ao lado eclipsado da
religiosidade. Comungando e combinando a trevosa bruxaria de Black Sabbath,
a sedutora ardência de Boston, a hipnótica exuberância de Atomic
Rooster e a majestosa elegância de Deep Purple, este ‘Black
Harvest’ gravita, mumifica e sepulta o ouvinte num petrificante estádio
de ofuscante deslumbramento que o seduz, embevece e conduz pelos sombrios
contos de Edgar Allan Poe. São 44 minutos aspergidos por uma luciférica perversidade
e tóxica nebulosidade que nos dilatam as pupilas, empalidecem o semblante, sobreaquecem
o peito, e estremecem, enlutam e profanam o espírito. Deixem-se encarvoar,
converter e assombrar pela magia negra de Green Lung à esmagadora boleia
de uma liderante voz de pele avinagrada, melódica, vampírica e apimentada que fica a meio caminho entre um Ozzy Osbourne e um Ronnie James Dio,
uma dominante guitarra que se manifesta em monolíticos, heréticos, tirânicos e esculturais riffs de onde são centrifugados enlouquecedores vendavais de espalhafatosos, ziguezagueantes, berrantes e
vertiginosos solos, um luxuoso teclado de pesadas, densas, tensas e perfumadas
harmonias, um fibroso baixo reverberado a linhas quentes, obesas, coesas e magnetizantes,
e uma pujante bateria atestada de testosterona que esporeia, vergasta e
incendeia toda esta cavalgada infernal com altiva e expressiva explosividade. O
fascinante vitral de natureza bíblica que compõe este colorido, pitoresco e soberbamente
detalhado artwork aponta os seus créditos autorais ao talentoso ilustrador
Richard Wells. Alcanço o final deste irresistível ritual de alma integralmente
atordoada e conquistada. ‘Black Harvest’ é um álbum tragicamente belo.
Um registo intensamente portentoso que não deixará ninguém recostado à
indiferença. Está assim encontrada a banda-sonora perfeita para climatizar o Halloween
que se avizinha. E, claro, uma das obras mais sublimes do ano, que aguardo com
sísmico anseio poder experienciar ao vivo no tão salivado verão português de 2022 (mais
concretamente na 10ª edição do festival Sonic Blast). É demasiado fácil
cair nesta pecaminosa tentação e selar um acordo de fidelização com o príncipe
das trevas.
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