sexta-feira, 22 de outubro de 2021

Review: ⚡ Green Lung - 'Black Harvest' (2021) ⚡

★★★★

Depois de celebrado o seu impactante e transformador álbum de estreia ‘Woodland Rites’ (aqui descortinado e imoderadamente reverenciado) no ano de 2019, eis que o afamado quinteto londrino Green Lung – que num curtíssimo espaço de tempo atingira uma popularidade meteórica – presenteia agora todos os seus devotos peregrinos com o tão desejado lançamento do seu segundo trabalho de longa duração, batizado de ‘Black Harvest’ e carimbado com o selo da influente editora escandinava Svart Records através dos formatos físicos de CD e vinil. Nesta sua nova colheita, maturada pela negra radiância e fermentada por um fibroso, inflamante, excitante e imperioso Heavy Rock de celebração ocultista, e um intrigante, sinuoso, pomposo e enfeitiçante Heavy Prog de pura musculatura setentista, o colectivo sacerdotal britânico prossegue com a sua demoníaca liturgia de ornamentadas orações apontadas ao lado eclipsado da religiosidade. Comungando e combinando a trevosa bruxaria de Black Sabbath, a sedutora ardência de Boston, a hipnótica exuberância de Atomic Rooster e a majestosa elegância de Deep Purple, este ‘Black Harvest’ gravita, mumifica e sepulta o ouvinte num petrificante estádio de ofuscante deslumbramento que o seduz, embevece e conduz pelos sombrios contos de Edgar Allan Poe. São 44 minutos aspergidos por uma luciférica perversidade e tóxica nebulosidade que nos dilatam as pupilas, empalidecem o semblante, sobreaquecem o peito, e estremecem, enlutam e profanam o espírito. Deixem-se encarvoar, converter e assombrar pela magia negra de Green Lung à esmagadora boleia de uma liderante voz de pele avinagrada, melódica, vampírica e apimentada que fica a meio caminho entre um Ozzy Osbourne e um Ronnie James Dio, uma dominante guitarra que se manifesta em monolíticos, heréticos, tirânicos e esculturais riffs de onde são centrifugados enlouquecedores vendavais de espalhafatosos, ziguezagueantes, berrantes e vertiginosos solos, um luxuoso teclado de pesadas, densas, tensas e perfumadas harmonias, um fibroso baixo reverberado a linhas quentes, obesas, coesas e magnetizantes, e uma pujante bateria atestada de testosterona que esporeia, vergasta e incendeia toda esta cavalgada infernal com altiva e expressiva explosividade. O fascinante vitral de natureza bíblica que compõe este colorido, pitoresco e soberbamente detalhado artwork aponta os seus créditos autorais ao talentoso ilustrador Richard Wells. Alcanço o final deste irresistível ritual de alma integralmente atordoada e conquistada. ‘Black Harvest’ é um álbum tragicamente belo. Um registo intensamente portentoso que não deixará ninguém recostado à indiferença. Está assim encontrada a banda-sonora perfeita para climatizar o Halloween que se avizinha. E, claro, uma das obras mais sublimes do ano, que aguardo com sísmico anseio poder experienciar ao vivo no tão salivado verão português de 2022 (mais concretamente na 10ª edição do festival Sonic Blast). É demasiado fácil cair nesta pecaminosa tentação e selar um acordo de fidelização com o príncipe das trevas.

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