Da cidade
costeira de San Diego (Califórnia) chega-nos um dos álbuns por
mim mais aguardados do ano. ‘Badlands’ dá nome ao primeiro álbum
a solo de Zack Oakley (mais conhecido de guitarra e microfone empunhados
ao serviço dos irreverentes Joy) e acaba de ser lançado tanto em formato
digital (com a possibilidade de download gratuito) através da sua página de Bandcamp oficial, como em formato
físico de vinil com o carimbo do recém-formado selo discográfico caseiro Kommune
Records. Contando com a importante colaboração de um populoso bando composto
por habilidosos músicos amigos – caras bem conhecidas de consagradas bandas
locais, tais como Psicomagia, Harsh Toke, Ocelot, Volcano
e Red Wizard – o talentoso multi-instrumentista Zack Oakley tem em
‘Badlands’ um sumarento cocktail sonoro, colorido, apaladado
e gaseificado por um vistoso, serpenteante, cativante e libidinoso Blues
Rock de balanço Boogie, aroma a Tex-Mex e roupagem setentista,
um electrizante, fogoso, lustroso e delirante Psychedelic Rock de
elevada toxicidade, estética revivalista e clima West Coast, e ainda um arejado,
reflexivo, lenitivo e ensolarado Psychedelic Folk de adornada moldura Western
e uma doce fragância primaveril. A sua sonoridade verdadeiramente apaixonante, afrodisíaca
e contagiante – sintonizada na mesma frequência de clássicas referências como ZZ
Top, Eagles, James Gang, The Allman Brothers Band, Lynyrd
Skynyrd, Black Oak Arkansas, Cactus, Humble Pie, The Outlaws
e Foghat – embarca o ouvinte numa transformadora road trip pelas
poeirentas estradas que estriam o deserto do Arizona rumo ao México. De olhar
ofuscado pelo vibrante Sol que se debruça no inatingível firmamento, narinas
dilatadas na aspiração da revitalizante brisa desértica, punhos cerrados no
volante de um barulhento muscle car, e espirito embriagado de mescalina,
somos embalados e consagrados num nirvânico vórtice de visões caleidoscópicas e
ambiências utópicas. São 40 minutos de extasiante deslumbramento sob a
psicotrópica influência de uma adorável guitarra de agradáveis, vaidosos, radiosos
e afáveis Riffs de onde debandam venenosos, alucinógenos, uivantes e
sinuosos solos distorcidos pela virulenta efervescência do pedal wah-wah,
uma voz xamânica – ocasionalmente abraçada por um espectral, mélico, luminoso e
sidérico coro vocal – de pele avinagrada, diabrina, hipnótica e aveludada, um
baixo flácido de murmúrios vagueantes, relaxados, bocejados e ondulantes, uma eloquente
bateria a galope de uma ritmicidade criativa, desembaraçada, leve e imersiva,
um teclado fabular de frescos, melódicos, opulentos e romanescos mugidos, e ainda
uma chamativa harmónica de sopros arenosos, incisivos, altivos e berrantes. ‘Badlands’
é um registo imensamente libertador. Um álbum extremamente sedutor, de fácil
digestão e imediata veneração. Icem as velas da espiritualidade ao sabor da
triunfante estreia a solo de Zack Oakley, e comunguem este poderoso peyote
de absorção auditiva, massagem cerebral e evasão consciencial. Um dos momentos mais
altos do ano musical de 2021 está aqui, no diluviano psicadelismo que tinge de
ofuscante coloração o lamacento sangue que corre pelas largas artérias do rio Mississippi onde fora forjado e chorado o velho Delta-Blues, e desagua nas douradas areias que pavimentam as paradisíacas
praias californianas. Bebam-no e reverenciem-no sem moderação.
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➥ Kommune Records
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