segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

Review: ⚡ Rude Skøtt Osborn Trio - 'The Virtue of Temperance' (2022) ⚡

★★★★

Depois de apresentados dois álbuns em 2020 – ‘The Discipline of Assent’ e ‘The Dichotomy of Control’ – o duo nórdico Martin Rude (Sun River) & Jakob Skøtt (Causa Sui) acaba de metamorfosear a sua constituição para o formato de trio (contando para esse efeito com o acréscimo da talentosa saxofonista, flautista e compositora de origem britânica Tamar Osborn) e o resultado audível desta tão frutífera e promissora parceria intitulada Rude Skøtt Osborn Trio não poderia ser mais do meu agrado. Oficialmente lançado pela mão do insuspeito selo discográfico dinamarquês El Paraiso Records (casa-mãe dos famigerados Causa Sui) através dos formatos LP (este limitado a uma prensagem de apenas 750 cópias físicas) e digital (nas extensões MP3 e FLAC), ‘The Virtue of Temperance’ vem impregnado numa balsâmica, mística, embriagante e exótica fragância onde se envaidece e embevece um profético, deslumbrante, inebriante e experimental Modal Jazz de composição virtuosa e radiância estival, que tão bem combina a clássica veia de endeusados padroeiros do género como Miles Davis, John Coltrane e Herbie Hancock, e um vincado cunho pessoal que lhe confere uma estética mais paisagista, sofisticada e actual. Contando ainda com as comparências de um ritmado, contagiante, dançante e adocicado Jazz-Funk de trote tribalista e aroma tropical, e de um nirvânico, oriental, sideral e onírico Folk de tempero etéreo e ambiental, a estimulante, prismática e messiânica sonoridade deste simbiótico trio desdobra-se num imersivo, singular e explorativo safari jazzístico – cadenciado por um embalante, magnético e viciante groove – que embalsama o ouvinte num enfeitiçante ritual impossível de ser quebrado. Superiormente tricotado por um contrabaixo elástico de linhas ondeantes, fluídas, inchadas e pulsantes que soletra repetidamente o riff-base, uma bateria soberbamente circense que espalha desarmante maestria pelos acrobáticos, galopantes e enfáticos timbalões e pratos tilintantes, abrasivos e cintilantes, um serpenteante saxofone de sopros garridos, trepidantes, coloridos e mirabolantes que desbrava caminho pela arborizada selva, uma flauta transversal fabular de frescas, arejadas, aveludadas e principescas melodias, e ainda uma guitarra poetisa de lustrosos, desatados, perfumados e harmoniosos acordes – escalados com vistosa perícia e transbordante sentimento – este magistral ‘The Virtue of Temperance’ vem oxigenado por uma ambiência ataráxica que nos mantém em órbita de um imperturbável estádio de pleno bem-estar. Refastelados neste balsâmico oásis, somos mergulhados nas profundezas da inescapável fascinação. Percam-se nos labirínticos meandros de uma cativante teia sonora tecida a pitoresca destreza arquitectónica, encontrem-se por entre as verdejantes, sublimadas e tranquilizantes planícies beijadas e massajadas pelo Sol poente, e velejem à boleia de toda esta criativa improvisação instrumental de consagração espiritual. Esta é a banda-sonora perfeita para emoldurar finais de tarde solarengos. Maravilhem-se e bronzeiem-se na sua sagrada radiância.

Links:
 El Paraiso Records
 SoundCloud

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