segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

Review: ⚡ Supersonic Blues - 'It's Heavy' (2022) ⚡

★★★★

Desenganem-se todos aqueles que acham que este álbum fora gravado de forma analógica e produção lo-fi numa decrépita e húmida cave situada algures no final dos 60’s / início dos 70’s, e por lá ficara esquecido – a ganhar bolor e um nauseabundo odor durante meio século – para só agora sair à rua com roupas datadas, cabelos desgrenhados e olhares esfomeados. ‘It’s Heavy’ é o portentoso disco de estreia dos jovens holandeses Supersonic Blues – tridente sediado na cidade costeira de Haia e que nutre uma indiscreta e doentia obsessão pelo lado mais raro e obscuro da velha música Rock forjada nas douradas décadas de 1960 e 1970 – oficialmente lançado hoje mesmo pela mão da companhia discográfica germânica Who Can You Trust? Records através do formato digital e de uma ultra-limitada edição em vinil (apenas 300 exemplares disponíveis para venda). Tal como o nome de baptismo da banda e o título do seu respectivo álbum assim o sugerem, este primeiro trabalho de Supersonic Blues vem fervido por um fogoso, pesado, gaseificado e libidinoso Heavy Blues hasteado à boa moda de Blue Cheer ou Cream, centrifugado por um delirante, caleidoscópico, exótico e vibrante Psychedelic Rock de coloração Jimi Hendrix’eana e groove Grand Funk Railroad’eano, e ainda obscurecido por um encarvoado, intrigante, dominante e amaldiçoado Proto-Doom a fazer recordar os primórdios dos britânicos Black Sabbath ou Wicked Lady. A sua sonoridade destemperada, poluída e desmaquilhada – de plena vocação vintage – espelha toda uma crueza, imponência, ardência e rudeza que não deixará ninguém recostado à indiferença. Na composição deste barulhento e fumegante vulcão em efervescente erupção perfilam-se uma guitarra polposa – gaseificada pela suja e corrosiva distorção Fuzz – que se agiganta em Riffs rochosos, dançantes e montanhosos, e derrapa em solos gritantes, sinuosos e alucinantes, um baixo musculoso de reverberação obesa, fibrótica e coesa, uma bateria estimulante de galope incessante, firme e triunfante, e ainda uma voz ácida, esbranquiçada e fantasmagórica que sobrevoa as bailantes lavaredas de toda esta vivaz e mordaz incandescência. ‘It’s Heavy’ é um álbum verdadeiramente enrugado, saturado, genuíno e ritmado que me preenchera as medidas. Deixem-se empoeirar, sobreaquecer e contagiar pelas psicotrópicas ressonâncias – de balanço boogie e forte fragância retro – pesadamente bafejadas por este tão promissor power-trio holandês, e balanceiem os vossos corpos embriagados à atordoante boleia de um álbum que resvala nas costuras fronteiriças da perfeição. O ano musical de 2022 não poderia estrear-se de melhor forma, ou não fosse eu um intratável apaixonado por bandas contemporâneas que conjugam a sua sonoridade no pretérito.

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