sexta-feira, 23 de setembro de 2022

Review: 🦑 Sula Bassana - 'Nostalgia' (2022) 🦑

★★★★

No 20º aniversário da sua fértil carreira a solo, o multi-instrumentista alemão Sula Bassana (denominação artística de Dave Schmidt) acaba de nos presentear com o lançamento do seu novíssimo álbum intitulado ‘Nostalgia’, lançado hoje mesmo nos formatos LP, CD e digital com o insuspeito carimbo do seu influente selo discográfico autoral Sulatron Records. Alterando as coordenadas que há muito o viajaram para bem longe na insondável intimidade do universo da música electrónica, o cosmonauta germânico aponta agora a sua bússola para outros destinos sonoros. Numa abordagem destemida, aventurosa e descomplexada, Sula Bassana ressuscitara cinco temas construídos e gravados entre 2013 e 2018, dando-lhes uma nova roupagem mais virada para a música Rock. Decantado de um camaleónico sortido sonoro – de géneros tão contrastados e efémeros – onde coabitam um caleidoscópico, exótico e astral Psychedelic Rock inundado em misticismo oriental, um imersivo, ventilado e explorativo Space Rock com vista para as estrelas, um pulsante, baloiçante e hipnótico Krautrock de embalo Drone que nos impulsiona para o lado eclipsado da Lua, um inebriante, expressivo e contagiante Alternative Rock sintonizado a meio caminho entre os velhos The Smashing Pumpkins e Placebo, e ainda um celestial, melancólico e sentimental Shoegaze de indiscretas semelhanças com os britânicos Slowdive, este é muito provavelmente o meu capítulo favorito desta longa travessia pelos desdobráveis domínios criativos de Sula Bassana. Uma transformadora, gratificante e sonhadora odisseia pelo Cosmos sonolento – de climas e paisagens desiguais que florescem no negro solo cósmico – que dissolverá o ouvinte numa inescapável hipnose e o deixará livremente à deriva na vacuidade espacial. Na lista de ingredientes que, em mágica simbiose, formam este combustível de libertação perceptual, perfilam-se uma guitarra airosa de Riffs arenosos e fogosos, e solos gélidos e uivantes, uma voz messiânica de sussurros fantasmagóricos e intrigantes, um baixo aveludado de ondulante, fluída e magnetizante reverberação, uma bateria propulsiva de batimentos constantes, cadenciados e diligentes, uma esfíngica cítara eléctrica de principesca caligrafia hindu, e toda uma parafernália de teclados, imbuídos num desregrado experimentalismo electrónico sem fronteiras que o espartilhem e condimentados a efeitos espaciais, tripulados a leves e soltas harmonias de arquitectura clássica e polposos mugidos tristemente belos. De destacar ainda todo o vistoso esplendor de natureza alienígena que transborda da sublime pintura surrealista (superiormente concebida pelo talentoso pintor francês Hervé Scott Flament), e que confere um inesquecível rosto a esta bonita obra. ‘Nostalgia’ é um álbum oxigenado a um inesgotável sentimento de nostalgia que pendula entre a diáfana luminosidade e a prostrada obscuridade. Um registo de identidade heterogénea que em nós cresce a cada audição que lhe é dedicada.

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