Conheci os finlandeses
Sammal algures entre 2017 e 2018 – aquando da promoção que antecedera o lançamento
do seu magnÃfico álbum ‘Suuliekki’ (aqui trazido e largamente aplaudido)
– e desde então que esta apaixonante formação nórdica se mantém bem cintilante no
ecrã do meu radar. Entretanto emagrecidos de quinteto para power-trio (ainda que para a ocasião a banda conte com a especial colaboração de um baixista convidado) e com um novÃssimo álbum
acabado de ser desenfornado pela mão do influente selo discográfico independente, seu compatriota, Svart
Records através dos formatos fÃsicos LP e CD, bem como sob a forma digital,
os Sammal dispensaram o exótico, simbiótico e deslaçado experimentalismo
que os caracterizara no passado e abrem agora novos horizontes, vestindo os seus temas actuais e vindouros com uma roupagem compositiva mais sucinta, ordenada
e linear. ‘Aika laulaa’ dá nome ao 4º trabalho de estúdio dos finlandeses e traz-nos uma cheirosa, fresca e melodiosa brisa escandinava
de mÃstica formosura medieval onde o bailante, oleado, refinado e excitante Progressive
Rock de carismática evocação setentista, o ácido, delirante,
inebriante e florido Psychedelic Rock de atordoante caleidoscopia sessentista
e o ambiental, pagão, folião e invernal Psychedelic Folk de envolvente ambiência
fabular se embrulham e romantizam. A sua sonoridade excelsa, de fácil digestão
e pronta fascinação, embruma a alma do ouvinte num doce e ataráxico torpor,
dobrando a sua linha labial na direcção do sorriso, meneando suave e
detidamente a sua cabeça de ombro em ombro, e revestindo o seu olhar de um ar sonhador.
Sobrevoando campestres paisagens de planÃcies nevadas por uma candura nÃvea,
vigiadas por um estrelado céu onde dança uma colorida e fantasmagórica aurora
boreal, somos estarrecidos e embalados pela etérea musicalidade de Sammal
ao longo de uns absorventes 41 minutos de ofuscante sedução. Pincelado por uma
guitarra afrodisÃaca – tanto mergulhada no espectral efeito reverb como
escaldada no urticante efeito fuzz – de comoventes, cremosos e picantes riffs
de onde esvoaçam solos adoráveis, capitosos e uivantes, costurado por uma
bateria criativa de balanço tribalista e inflamante luminância, sombreado por
um baixo hipnótico de bafo quente, bulboso e pulsante, e cantado no seu idioma
nativo por uma voz avinagrada, enregelada e garrida, este ‘Aika laulaa’ é
um álbum verdadeiramente majestoso que encerra uma lapidar beleza nocturna de
clima glaciar. Um registo arejado, sidéreo e perfumado que me envolvera e maravilhara
de uma forma verdadeiramente impactante. Deixem-se embevecer pela dançante e
contagiante lascÃvia transudada pelos finlandeses Sammal, e
vivenciem com inquebrável feitiço uma das mais atraentes obras desabrochadas nos
jardins sonoros de 2022.
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