terça-feira, 6 de dezembro de 2022

Review: 🌙 Sammal - 'Aika laulaa' (2022) 🌙

★★★★

Conheci os finlandeses Sammal algures entre 2017 e 2018 – aquando da promoção que antecedera o lançamento do seu magnífico álbum ‘Suuliekki’ (aqui trazido e largamente aplaudido) – e desde então que esta apaixonante formação nórdica se mantém bem cintilante no ecrã do meu radar. Entretanto emagrecidos de quinteto para power-trio (ainda que para a ocasião a banda conte com a especial colaboração de um baixista convidado) e com um novíssimo álbum acabado de ser desenfornado pela mão do influente selo discográfico independente, seu compatriota, Svart Records através dos formatos físicos LP e CD, bem como sob a forma digital, os Sammal dispensaram o exótico, simbiótico e deslaçado experimentalismo que os caracterizara no passado e abrem agora novos horizontes, vestindo os seus temas actuais e vindouros com uma roupagem compositiva mais sucinta, ordenada e linear. ‘Aika laulaa’ dá nome ao 4º trabalho de estúdio dos finlandeses e traz-nos uma cheirosa, fresca e melodiosa brisa escandinava de mística formosura medieval onde o bailante, oleado, refinado e excitante Progressive Rock de carismática evocação setentista, o ácido, delirante, inebriante e florido Psychedelic Rock de atordoante caleidoscopia sessentista e o ambiental, pagão, folião e invernal Psychedelic Folk de envolvente ambiência fabular se embrulham e romantizam. A sua sonoridade excelsa, de fácil digestão e pronta fascinação, embruma a alma do ouvinte num doce e ataráxico torpor, dobrando a sua linha labial na direcção do sorriso, meneando suave e detidamente a sua cabeça de ombro em ombro, e revestindo o seu olhar de um ar sonhador. Sobrevoando campestres paisagens de planícies nevadas por uma candura nívea, vigiadas por um estrelado céu onde dança uma colorida e fantasmagórica aurora boreal, somos estarrecidos e embalados pela etérea musicalidade de Sammal ao longo de uns absorventes 41 minutos de ofuscante sedução. Pincelado por uma guitarra afrodisíaca – tanto mergulhada no espectral efeito reverb como escaldada no urticante efeito fuzz – de comoventes, cremosos e picantes riffs de onde esvoaçam solos adoráveis, capitosos e uivantes, costurado por uma bateria criativa de balanço tribalista e inflamante luminância, sombreado por um baixo hipnótico de bafo quente, bulboso e pulsante, e cantado no seu idioma nativo por uma voz avinagrada, enregelada e garrida, este ‘Aika laulaa’ é um álbum verdadeiramente majestoso que encerra uma lapidar beleza nocturna de clima glaciar. Um registo arejado, sidéreo e perfumado que me envolvera e maravilhara de uma forma verdadeiramente impactante. Deixem-se embevecer pela dançante e contagiante lascívia transudada pelos finlandeses Sammal, e vivenciem com inquebrável feitiço uma das mais atraentes obras desabrochadas nos jardins sonoros de 2022.

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