Depois de
lançados e imoderadamente reverenciados os álbuns ‘Child’ de 2014 (review
aqui) e ‘Blueside’ de 2016 (review aqui) – bem como
o EP ‘I’ lançado em 2018 (review aqui) – o apaixonante tridente
australiano Child acaba de descortinar o seu muitÃssimo ansiado terceiro
trabalho de longa duração, intitulado ‘Soul Murder’ e lançado por agora sob
a exclusiva forma digital com o respectivo carimbo autoral, surpreendendo até o
mais fiel dos seus seguidores pelo repentismo do anúncio. Replicando a fórmula musical
que os caracteriza desde as suas raÃzes e que tantos e suculentos frutos tem
dado, ‘Soul Murder’ serpenteia-se envaidecidamente pelas rústicas e poeirentas
estradas de um libidinoso, inflamante, picante e oleoso Heavy Blues de
forte hálito a whiskey e toxicidade a perder de vista. Honrando os
velhos deuses do primitivo Delta Blues lamuriado nas margens do rio Mississippi,
a odorosa, dourada e charmosa sonoridade de Child – que tanto se
obscurece, robustece e enruga como se embevece, empalidece e amacia – obriga os
seus ouvintes a cravarem os dentes nos lábios (numa indiscreta expressão de
incontido deleite), rebaixarem as pálpebras sobre um olhar sonhador, suspirarem lenta e profundamente e
menearem a cabeça num imutável ricochete de ombro a ombro. Desenrolado a duas
velocidades, este extasiante, sedutor e inebriante terceiro álbum da banda
sediada na cidade costeira de Melbourne tanto arranca em desenfreadas galopadas
de esporas ensanguentadas como se aquieta em deslumbrantes baladas de
sentimentos transbordantes. Percam-se e encontrem-se por entre os serpenteios
de uma guitarra electrificante – fervida numa arenosa e efervescente distorção –
que se avoluma na majestosa edificação de atordoantes, afrodisÃacos e intoxicantes
Riffs e se multiplica na virtuosa condução de hipnóticos,
ziguezagueantes e exóticos solos, o pesado e quente bafo de um baixo fibroso
que escolta e sombreia todas as incursões da guitarra, a fogosa rutilância de
uma bateria vergastada a incisiva, explosiva e expressiva ritmicidade, e a liderante
voz de pele hidratada, melodiosa, veludosa e caramelizada que nos seduz e
conduz pelas lampejantes e aventurosas avenidas de Child. Este é um
álbum verdadeiramente provocante, sexy e intoxicante, encerado a desarmante requinte, que me ofuscara e sublimara
do primeiro ao derradeiro tema. Uma obra do tamanho da fascinação que nutro pela
banda que a criara. Dissolvam-se nesta ardente bebida alcoólica, destilada de
cereais, envelhecida em barris de carvalho e designada ‘Soul Murder’, que
vos embaciará a lucidez, desinibirá todos os temores, sobreaquecerá os motores
e remexerá a alma sedenta por experienciar algo assim.
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