sexta-feira, 30 de junho de 2023

🍿 Cinema & TV de Abril, Maio e Junho

The Last of Us S01 (2023) de Neil Druckmann & Craig Mazin   ★★★★★
Everybody Wants Some!! (2016) de Richard Linklater   ★★★☆☆
The Whale (2022) de Darren Aronofsky   ★★★☆
Rocky (1976) de John G. Avildsen   ★★★★☆
Daisy Jones & The Six S01 (2023) de Scott Neustadter & Michael H. Weber   ★★★★★
X (2022) de Ti West   ★★★☆☆
Pearl (2022) de Ti West   ★★★☆
On Golden Pond (1981) de Mark Rydell   ★★★★☆
Cross of Iron (1977) de Sam Peckinpah   ★★★★☆
The Revenant (2015) de Alejandro González Iñárritu   ★★★★★
The Lost Boys (1987) de Joel Schumacher   ★★★☆☆
True Grit (2010) de Ethan Coen & Joel Coen   ★★★☆
Lost Highway (1997) de David Lynch   ★★★★☆
Eastern Promises (2007) de David Cronenberg   ★★★★☆
Event Horizon (1997) de Paul W.S. Anderson   ★★★☆☆
Alien (1979) de Ridley Scott   ★★★★★
This Is Us S06 (2022) de Dan Folgelman   ★★★★★
Aliens (1986) de James Cameron   ★★★★★
The Menu (2022) de Mark Mylod   ★★★☆☆
Summer of Soul (2021) de Questlove   ★★★★☆
Gone in Sixty Seconds (2000) de Dominic Sena   ★★★☆☆

🦥 Yonin Bayashi 四人囃子 - "Ishoku-Sokuhatsu" (1974)

🐍 Khruangbin - "Maria También" (Live at The Current)

quinta-feira, 29 de junho de 2023

🧠 Emerson, Lake & Palmer - Story of 'Brain Salad Surgery' (1973)

Review: 🦇 Karavan - 'Unholy Mountain' (2023) 🦇

★★★★

Do litoral sul norueguês – mais concretamente do condado de Rogoland – chegam-nos as trevosas, intrigantes e poderosas ressonâncias emanadas do possante tridente nórdico Karavan, que acaba de nos ofuscar com o lançamento do seu portentoso álbum de estreia ‘Unholy Mountain’ através dos imediatos formatos cassete (pela mão da norueguesa Evil Noise Recordings) e digital, e ainda com a garantia de uma futura prensagem em vinil pelo selo dinamarquês Vinyltroll Records. Misturando e condimentando um pantanoso, ocioso, intoxicante e monstruoso Doom Metal, um lodacento, seboso, rugoso e bolorento Sludge Metal e um inflamante, demoníaco, tétrico e hipnotizante Black Metal, a apocalíptica, pentagrâmica e cerimonial sonoridade de ‘Unholy Mountain’ – banhada a cega pretura e incendida a provocante diabrura – dilata as pupilas, trava a respiração, enregela a pele e profana a alma do ouvinte. Atropelados por uma mastodôntica, impiedosa e virosa avalanche de THC e soterrados num embrumado e profundo estádio de febril narcose, caminhamos de olhar vendado e passo amedrontado pelos fumarentos, sombrios e dantescos territórios de Karavan. Uma liturgia infernal que nos sepulta no lado eclipsado da religiosidade. Uma morfínica, asfixiante e luciférica obscuridade que nos mumifica e terrifica do primeiro ao derradeiro tema. São 45 minutos governados e enlutados por uma opressão tumular que nos endurece e paralisa os sentidos. Deixem-se absorver e estarrecer por este culto endiabrado, superiormente liderado por uma guitarra imperiosa – consumida pelo faiscante, abrasivo e crocante Fuzz – que se agiganta em riffs modorrentos, bafientos e acintosos, um baixo fibrótico de linhas tensas, densas e sísmicas, uma bateria potente de ritmicidade ofensiva, incisiva e impetuosa, e violentos vocais de rugidos cavernosos, incandescentes e espinhosos. ‘Unholy Mountain’ é um álbum fervido e consumido por negras e crepitantes lavaredas que nos encarvoam o espírito. Um registo tenebroso, maléfico e misantrópico que nos inebria e conduz à mais trágica distopia. Deixem-se conspurcar e açoitar pela corrosiva, agressiva e altiva pretura de Karavan, e vivenciem as suas prepotentes trevas das quais não é tarefa fácil regressar.

Links:
 Facebook
 Instagram
 Bandcamp
 Vinyltroll Records
 Evil Noise Recordings

🦋 Pink Floyd - "Remember A Day" (1968)

🎁 Ian Paice // Deep Purple (29/06/1948)

sexta-feira, 23 de junho de 2023

☮ Woodstock '69

📸 Ralph Ackerman / Getty Images

💫 David Gilmour // Pink Floyd

📸 Jill Furmankovsky

🎪 Frank Zappa

Review: 🐉 Mammatus - 'Expanding Majesty' (2023) 🐉

★★★★

Depois de um longo e penoso jejum discográfico que se seguira ao lançamento de ‘Sparkling Waves’ (2015), os titânicos Mammatus estão finalmente de regresso com o nascimento da opulenta obra-prima ‘Expanding Majesty’, descortinada hoje mesmo através da californiana Silver Current Records no exclusivo formato físico de LP (com duas edições ultra-limitadas e já esgotadas). Antes de me debruçar sobre este triunfante retorno do druídico tridente natural da cidade costeira de Santa Cruz (Califórnia, EUA), devo confessar que este era muito provavelmente o álbum por mim mais aguardado do ano (tal a minha devoção de contornos quase religiosos pela banda), e, portanto, foi com um crescente e imoderado entusiasmo que contara os dias até à chegada do momento em que pude finalmente experienciá-lo na íntegra e confirmar toda a sua ofuscante majestosidade. Ensaboado e encerado por um ambiental, colorido, açucarado e divinal Psychedelic Rock – que se bipolariza numa fresca, contemplativa e reinante fragância oceânica a fazer recordar o lado mais reflexivo dos surfistas californianos The Mermen, e numa fogosa, transpirada e ocasional vertigem de ligeiro tremor tectónico que me remete para os seus saudosos vizinhos Comets on Fire e para os não menos saudosos canadianos Quest for Fire –, em perfeita simbiose com um sumptuoso, onírico, fantástico e aventuroso Progressive Rock com vista desimpedida para os astros que cintilam no negro solo ultraterrestre e que partilha o ADN com os clássicos britânicos YES, este quinto álbum de estúdio da banda à beira mar plantada presenteia e prazenteia o ouvinte com uma expansiva, expressiva e gratificante odisseia cósmica de 70 minutos de duração que o viaja por maravilhosas paisagens sonoras futuristas e inexplorados territórios do espaço alienígena. ‘Expanding Majesty’ vem compartimentado por quatro longas, adoráveis e memoráveis faixas edificadas a uma irretocável beleza arquitectónica, oxigenadas por um esponjoso hipnotismo que nos proíbe de pestanejar, e farolizadas por um deífico misticismo que em nós provocam toda uma permeabilidade sensorial e emancipação consciencial. Lavrado por uma instrumentação sublime e habilmente elaborada para envolver o espírito do ouvinte numa inescapável teia de sonhos, este jupiteriano registo de Mammatus veleja leve e pausadamente pelas pacíficas, nirvânicas e etéreas águas cósmicas onde se revelam deslumbrantes firmamentos que nos comovem, absorvem e petrificam numa doce ilusão de adormecimento. Um álbum espaçoso, arejado e miraculoso – ventilado a uma fina sensibilidade e aureolado por uma diáfana luminescência – que em nós provoca a depuração e desagregação da alma rumo a um oásis espiritual. Na composição desta mágica combustão dialogam entre si uma guitarra faraónica de acordes serpenteantes, melífluos e cristalinos que se vão desenvolvendo em slow-motion e de onde são vertidos uivantes, engordurados e avinagrados solos, um baixo elástico de linhas quentes, volumosas e flutuantes, uma bateria acrobática de locomoção cativante e precisão robótica, toda uma quimérica profusão de sintetizadores que vocalizam diluvianos mugidos e berrantes sirenes cósmicos que nos provocam arrepios epidérmicos, e celestiais, gentis e lampejantes coros vocais – de tom cantante e essência profética – que se encontram e desencontram numa caleidoscópica sobreposição e ecoam pela infinidade sideral. O artwork verdadeiramente esplêndido e de indiscreta inspiração Roger Dean’esca – que traduzira na perfeição para o universo visual tudo aquilo que a criativa sonoridade de ‘Expanding Majesty’ desdobra no imaginário do ouvinte – aponta os seus créditos autorais ao talentoso ilustrador espanhol Cristian Eres. Alcanço o final desta inesquecível viagem mergulhado num torpor comatoso, de olhar marejado e sorriso desabrochado no rosto. Este é um disco verdadeiramente nirvânico e um dos mais sérios candidatos ao tão ambicionado título de melhor álbum de 2023.

Links:
 Facebook
 Instagram
 Bandcamp
 Silver Current Records

quarta-feira, 21 de junho de 2023

Pink Floyd live at Pompeii - "Echoes" (I & II)

🌊 Sonic Blast 2023

Review: 🌙 Moonstone - 'Growth' (2023) 🌙

★★★★

Depois de no final de 2019 ter testemunhado pela primeira vez todo o impactante vigor dos polacos Moonstone (análise ao seu homónimo álbum de estreia aqui), hoje aponto os holofotes ao seu segundo álbum de estúdio ‘Growth’, lançado pela parceria discográfica local Galactic Smokehouse / Interstellar Smoke Records através dos formatos CD e digital. Anoitecido por um altivo, melancólico, sorumbático e opressivo Psychedelic Doom de falecida coloração outonal que vagueia pelas fúnebres ruínas de beleza cinematográfica de um enfeitiçante, distópico, misantrópico e intrigante Post-Metal oxigenado por um misticismo oriental, 'Growth' é um titâ que em nós provoca todo um fremente sismo emocional. A sua sonoridade nocturna, dramática, hermética e taciturna deixa o ouvinte prostrado, sedado e de olhos vendados, abrigado nas encarvoadas trevas de Moonstone. De semblante desmaiado e caído sobre o peito, embarcamos numa esfíngica, ascética e sonâmbula digressão pelos nebulosos desertos do lado eclipsado da alma, farolizados pela negra radiância emanada deste possante quarteto enraizado na cidade polaca de Cracóvia. Este é um álbum que nos trava a respiração, enregela o coração e incendeia de uma flamejante escuridão. Dissolvidos nesta plangente narcose que nos embacia a lucidez, somos varridos pelos esotéricos bailados de duas guitarras lascivas que se engrandecem e enrijecem em mastodônticos, contemplativos, impiedosos e proféticos riffs – efervescidos a fogosa distorção – de onde ecoam solos uivantes, ácidos, alucinados e esvoaçantes, sombreados pela densa, sisuda, nervuda e tensa reverberação de um baixo imponente, vergastados pela altiva, incisiva, relampejante e precisa ritmicidade de uma bateria tribalista, e embruxados pelos vocais vampíricos, hipnóticos, monocórdicos e sacerdotais que conduzem toda esta caliginosa liturgia de transformação espiritual. ‘Growth’ é uma obra tristemente bela. Um álbum mesmérico, portador de uma atmosfera imensamente cativante, que tanto nos asfixia como alivia, escurece como amanhece, alcooliza como euforiza. Não vai ser fácil – ou sequer desejado – quebrar o intenso feitiço de Moonstone, que, do primeiro ao derradeiro tema, tem o dom de nos conquistar e aprisionar a um pleno estádio de imperturbável transe.

Links:
 Facebook
 Instagram
 Bandcamp
 Galactic Smokehouse
 Interstellar Smoke Records

sexta-feira, 16 de junho de 2023

✌️ Komodrag & The Mounodor - "Marie France" (live, 2022)

⚡️ D'Arcy Wretzky // The Smashing Pumpkins (1992)

Review: 🦅 Yawning Man - 'Long Walk of the Navajo' (2023) 🦅

★★★★

Com quase quatro décadas de inspiradora actividade e duas mãos cheias de lançamentos discográficos, os históricos Yawning Man apresentam agora a sua novíssima obra ‘Long Walk of the Navajo’ através dos formatos LP, CD e digital com o carimbo editorial do influente selo romano Heavy Psych Sounds. Com o incontornável Mario Lalli ausente num hiatus de duração indeterminada, mas brilhantemente substituído nas quatro cordas pelo regressado baixista Billy Cordell (uma cara bem conhecida dentro da desert scene), estes três reis magos do deserto californiano – liderados pelo mítico Gary Arce – dão, assim, continuidade à sua mística, longa e paradisíaca travessia pelos seus ajardinados desertos. De almas empoeiradas, pele bronzeada e instrumentos empunhados, os Yawning Man sobrevoam as mastodônticas formações rochosas do Monument Valley à boleia de um melancólico, reflexivo, lenitivo e cinematográfico Post-Rock embrumado por um temulento, pachorrento e onírico Shoegaze, e um arenoso, místico, druídico e radioso Psychedelic Rock arejado pela revitalizante frescura Surf-Rock. A sua caravânica sonoridade – inteiramente instrumental – trilha o sagrado território indígena do povo Navajo, debaixo de céus crepusculares, pincelados por múltiplas cores fogosas, e farolizado pelo corado Sol, de bafo morno, que se debruça no intangível horizonte rochoso. Uma deslumbrante, anestésica, profética e relaxante digressão espiritual pelas sinestésicas e narcotizantes propriedades da mescalina. Um afago sensorial que nos soterra nas profundezas da nirvânica introspecção. Escancarem as portas da percepção e testemunhem um bíblico dilúvio da consciência ao profético som de uma guitarra alucinógena que se espreguiça vagarosamente num perpétuo e obsessivo loop de serpenteantes, caleidoscópicos, viajantes e imaginativos acordes onde ecoam uivantes, ácidos, translúcidos e intoxicantes solos levados pela odorosa brisa do deserto, um baixo murmurante de linhas quentes, obesas, coesas e ondeantes que persegue e sombreia todas as estonteantes incursões da guitarra, e uma bateria hipnótica de ofuscante luzência seráfica e contagiantes ritmos tribais que tiquetaqueia com irretocável precisão toda esta maravilhosa digressão pelos longos e sinuosos desfiladeiros da nossa alma. São 38 minutos de um edénico, quimérico e absorvente ritual que nos dilata as pupilas e desanuviam os páramos da espiritualidade. ‘Long Walk of the Navajo’ é um peiote sonoro que nos faz sonhar acordados. Um álbum mesmérico, sem porta de saída, que nos enfeitiça e gravita em seu redor bem para lá do seu corpo temporal. Um oásis de frescas águas marulhantes, farta vegetação verdejante e reconforto mental onde nos recostamos e entregamos aos braços da ataraxia. Comunguem-no sem defesas.

Links:
 Facebook
 Instagram
 Bandcamp
 Heavy Psych Sounds

quarta-feira, 14 de junho de 2023

Crucis - "La Triste Visión Del Entierro Propio" (1976)

✝️ Rory Gallagher (02/03/1948 🎗 14/06/1995)

Review: 🌌 MOUTH - 'Getaway' (2023) 🌌

★★★★

Depois de um jejum discográfico de cinco anos – que principiara com o triste falecimento do baixista Gerald Kirsch – a banda germânica MOUTH – localizada na cidade de Colónia e que conta já com duas décadas de existência – regressa agora com o lançamento do seu quarto trabalho de longa duração, intitulado ‘Getaway’ e lançado sob a forma física de LP através da editora, sua compatriota, This Charming Man. Climatizado por um magistral, magnetizante, enleante e celestial Progressive Rock de roupagem setentista, natureza fantasista e um vistoso sotaque Canterbury’esco, que integra discretas moléculas de um deslumbrante, colorido e dançante Psychedelic Rock, um arlequinesco, gaiteiro e enfeitiçante Jazz-Fusion e até de um experimental, absorvente e sideral Krautrock, este novo álbum de MOUTH faz a ponte perfeita entre clássicas referências do género como Soft Machine, YES, Caravan, Gentle Giant e Genesis, e outras contemporâneas como Hypnos69, Colour Haze, Astra, Birth e Sacri Monti. Embrumados pelas cintilantes e fantasmagóricas poeiras estelares, viajados pela intensa pretura que pavimenta a perpétua vacuidade cósmica, e inebriados pelo odoroso e psicotrópico misticismo de ‘Getaway’, somos prontamente eclipsados e maravilhados pela sonoridade catártica, onírica e camaleónica da banda alemã. Compartimentado em sete temas, sendo que o introdutório – uma épica suite de opulenta composição e cintilantes 23 minutos de duração que dá nome a esta fantástica obra – reclama para si mesmo a maior fatia do protagonismo, ‘Getaway’ navega através dos oceanos cósmicos em constante mutação. Um subtil pêndulo que tanto nos eteriza e nebuliza nas sublimes e sonhadoras passagens oxigenadas a morfínica e melancólica ataraxia, como nos sacode e explode com vertiginosas e aparatosas galopadas locomovidas a vulcânica e aparatosa euforia. Na composição deste fármaco sagrado convivem em harmonia uma guitarra aventureira que se manifesta em babilónicos, majestosos, esponjosos e epopeicos riffs de onde são vertidos, uivados e esvoaçados delirantes, ácidos, lampejantes e estonteantes solos, um baixo baloiçante de linhas sombreadas, avultadas e pululantes, uma bateria tribal de pratos flamejantes, acrobáticos timbalões e estimulante ritmicidade, um polposo teclado de tonalidade vintage que nos dilata as pupilas e estanca a respiração com os seus intrigantes, refrescantes e aquosos mugidos, e uma voz profética, de tez amarelada, harmoniosa, sedosa e azedada, que nos faroliza e canaliza nesta quimérica odisseia pelo admirável universo de MOUTH. Deixem-se cair na salivante boca deste power-trio germânico e diluir na sua açucarada musicalidade.

Links:
 Facebook
 Instagram
 Bandcamp
 This Charming Man

quinta-feira, 8 de junho de 2023

🦅 Eagles - "Take it easy" (live, 1977)

🍹 El Perro @ Freak Valley 2023

🦇 Black Sabbath

😱 King Crimson - "Epitaph" (1969)

Review: ⚓️ The Silver Linings - 'The Silver Linings' EP (2023) ⚓️

★★★★

Da cidade sulista de Málaga (Andaluzia, Espanha) chega-nos um dos mais sérios candidatos a melhor registo de curta duração de 2023. ‘The Silver Linings’ é o homónimo EP de estreia (e que estreia!) da banda andaluza, lançado sob a exclusiva forma digital, mas com a promessa do lançamento de um LP calendarizado para o outono debaixo da alçada do influente selo discográfico local Spinda Records (com o qual o quinteto acaba de celebrar um vínculo contratual). Este sumarento cocktail tricolor, onde se identifica e apalada um colorido, caleidoscópico, exótico e ensolarado Psychedelic Rock – a fazer recordar Causa Sui, Papir e Sun River – de fragância oceânica, calor tropical e acidez sessentista, um alucinógeno, ritualístico, místico e sideral Space Rock de alienígena idioma Hawkwind’esco, escapismo sónico e amplificação consciencial, e um galopante, ritmado, magnético e contagiante Krautrock de absorvente pulsação CAN’ica que mumifica o ouvinte na sua inescapável teia sonora, provoca no ouvinte todo um arco-íris de boas sensações que o aureola do primeiro ao derradeiro tema. A sua sonoridade ataráxica, viajante, deslumbrante e camaleónica embala-nos numa vertiginosa hipnose – rica em sacarose – que nos subtrai a lucidez e mergulha nas profundezas da sinestésica embriaguez. De olhar ofuscado por uma intensa luzência diamantina, narinas dilatadas na inalação da cheirosa brisa marítima, ouvidos salivantes onde penetra o grasnar de gaivotas esvoaçantes, sorriso desabrochado no rosto bronzeado e pés desnudos, soterrados nas suavizantes e douradas areias onde um perpétuo vai-e-vem de frescas e espumosas ondas desmaiam, somos eclipsados e sedados pela paradisíaca toxicidade de The Silver Linings. Na composição desta irresistível iguaria mediterrânica perfilam-se duas guitarras lisérgicas que se enlaçam em dançantes, voluptuosos e refrescantes acordes e desenlaçam em escorregadios, prismáticos e fugidios solos, um baixo murmurante de linhas saltitantes, hipnóticas e ondeantes, uma bateria propulsiva – aliada a uma percussão tribal – de ritmos quentes, movediços e absorventes, um quimérico teclado de mil coros angelicais, e uma voz robotizada, distorcida e espectral. A maravilhosa e chamativa ilustração desta bonita obra aponta os seus créditos autorais ao artista espanhol Antonio Ramírez, que traduzira com exactidão para o universo visual todo o psicadelismo pelágico que navega a musicalidade desta jovem banda. ‘The Silver Linings’ é um nirvânico sonho acordado. A banda-sonora perfeita para musicar o verão que se avizinha. Deixem-se dissolver e embevecer nesta esponjosa e deleitosa odisseia marítima, e se avistarem o deus Poseidon, talvez não seja uma miragem.

Links:
 Facebook
 Instagram
 Bandcamp

segunda-feira, 5 de junho de 2023

👽 Lemmy Kilmister // Hawkwind (1972)

📸 Gijsbert Hanekroot

Rufus & Chaka Khan - "Once You Get Started" @ TopPop (1975)

Quest For Fire - 'Lights From Paradise' (2010, Tee Pee Records)

✈️ Budgie - 'Squawk' (1972)


🎨 Roger Dean

Review: 🔮 Lars Fredrik Frøislie - 'Fire Fortellinger' (2023) 🔮

★★★★

Da cidade-capital norueguesa de Oslo chega-nos o mirífico álbum de estreia do multi-instrumentista Lars Fredrik Frøislie (teclista de Wobbler), que conta com a colaboração do baixista Nikolai Hængsle (Elephant9 e Needlepoint). Recém-lançado pela mão do influente selo discográfico norueguês Karisma Records nos formatos físicos de LP e CD, ‘Fire Fortellinger’ vem climatizado por um medieval, romanesco, poético e magistral Progressive Rock de épica dramaturgia que passeia de mãos dadas a um primaveril, charmoso, odoroso e pastoril Folk pincelado a enternecedora melancolia. Norteada pela intrigante mitologia escandinava e cativantes relatos de eventos ancestrais, bem como impregnada em indiscretas influências britânicas resgatadas dos dourados anos 70 como YES, Gentle Giant, Genesis, Jade Warrior, Camel e Emerson, Lake & Palmer, a sua quimérica, estética e novelesca sonoridade caminha airosa e graciosamente pelas sumptuosas, frescas e cheirosas melodias que compõem este primeiro e glorioso passo discográfico a solo do talentoso músico nórdico. Esculpido por composições de traje aristocrático, natureza erudita e destreza irrepreensível, ‘Fire Fortellinger’ conduz o ouvinte pelas virginais paisagens naturais da velha Noruega. Uma reparadora, ataráxica e libertadora experiência, sublimemente musicada por toda uma mística, nirvânica e onírica profusão de enfeitiçantes teclados clássicos (cravo, Mellotron, MiniMoog, Yamaha CP70 e um órgão Hammond) – de onde saltitam soltas e consonantes notas de beleza lapidar, esvoaçam imersivos e expressivos bailados serpenteantes, e mugem polposos e misteriosos coros astrais e inebriantes –, um vistoso baixo de linhas possantes, magnéticas, elásticas e ondeantes que sombreia e mareia este navio viking, uma cintilante, acrobática, fogosa e enfática bateria – de apaixonante requinte jazzístico – que pauta com distinção tanto a quimérica quietação como a troante comoção, e uma voz lírica, sóbria e profética – entoada no seu idioma nativo – que completa na perfeição esta caprichada, doce e frutada fragrância norueguesa. Este é um álbum imensamente garboso, primoroso e enleante que nos faz dançar e sonhar bem alto. Uma obra extraordinariamente cativante, inspiradora e divinal, de arquitectura cerebral e beatitude imortal, que em nós causa todo um apego impossível de quebrar e uma imensa permeabilidade emocional. Um purificante bálsamo de lívida brancura que nos cega de devota fascinação e reconforta nos braços da plena jubilação. Deixem-se absorver e embevecer nesta encantadora epopeia nórdica e vivenciem – com um incontrariável sorriso no rosto, uma inapagável expressão fantasista no olhar e uma imperturbável sensação de bem-estar na alma – todo o mágico esplendor de um disco batizado pelos astros.

Links:
 Facebook
 Bandcamp
 Karisma Records