quarta-feira, 14 de junho de 2023

Review: 🌌 MOUTH - 'Getaway' (2023) 🌌

★★★★

Depois de um jejum discográfico de cinco anos – que principiara com o triste falecimento do baixista Gerald Kirsch – a banda germânica MOUTH – localizada na cidade de Colónia e que conta já com duas décadas de existência – regressa agora com o lançamento do seu quarto trabalho de longa duração, intitulado ‘Getaway’ e lançado sob a forma física de LP através da editora, sua compatriota, This Charming Man. Climatizado por um magistral, magnetizante, enleante e celestial Progressive Rock de roupagem setentista, natureza fantasista e um vistoso sotaque Canterbury’esco, que integra discretas moléculas de um deslumbrante, colorido e dançante Psychedelic Rock, um arlequinesco, gaiteiro e enfeitiçante Jazz-Fusion e até de um experimental, absorvente e sideral Krautrock, este novo álbum de MOUTH faz a ponte perfeita entre clássicas referências do género como Soft Machine, YES, Caravan, Gentle Giant e Genesis, e outras contemporâneas como Hypnos69, Colour Haze, Astra, Birth e Sacri Monti. Embrumados pelas cintilantes e fantasmagóricas poeiras estelares, viajados pela intensa pretura que pavimenta a perpétua vacuidade cósmica, e inebriados pelo odoroso e psicotrópico misticismo de ‘Getaway’, somos prontamente eclipsados e maravilhados pela sonoridade catártica, onírica e camaleónica da banda alemã. Compartimentado em sete temas, sendo que o introdutório – uma épica suite de opulenta composição e cintilantes 23 minutos de duração que dá nome a esta fantástica obra – reclama para si mesmo a maior fatia do protagonismo, ‘Getaway’ navega através dos oceanos cósmicos em constante mutação. Um subtil pêndulo que tanto nos eteriza e nebuliza nas sublimes e sonhadoras passagens oxigenadas a morfínica e melancólica ataraxia, como nos sacode e explode com vertiginosas e aparatosas galopadas locomovidas a vulcânica e aparatosa euforia. Na composição deste fármaco sagrado convivem em harmonia uma guitarra aventureira que se manifesta em babilónicos, majestosos, esponjosos e epopeicos riffs de onde são vertidos, uivados e esvoaçados delirantes, ácidos, lampejantes e estonteantes solos, um baixo baloiçante de linhas sombreadas, avultadas e pululantes, uma bateria tribal de pratos flamejantes, acrobáticos timbalões e estimulante ritmicidade, um polposo teclado de tonalidade vintage que nos dilata as pupilas e estanca a respiração com os seus intrigantes, refrescantes e aquosos mugidos, e uma voz profética, de tez amarelada, harmoniosa, sedosa e azedada, que nos faroliza e canaliza nesta quimérica odisseia pelo admirável universo de MOUTH. Deixem-se cair na salivante boca deste power-trio germânico e diluir na sua açucarada musicalidade.

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