quarta-feira, 12 de junho de 2024

Review: 🕷️ Bum Shelter - 'Bum Shelter' (2024) 🕷️

★★★★

Da cidade-capital Viena chega-nos a exalação canábica baforada pelo dominante, sísmico e arrogante álbum de estreia do recém-formado quinteto austríaco Bum Shelter, lançado no final de abril através dos formatos cassete (pela mão da Capeet Records numa edição ultra-limitada a 150 cópias físicas) e digital. Obscurecido por um melancólico, montanhoso, tenebroso e distópico Psychedelic Doom polvilhado com condimentos cósmicos, e profanado por um fervilhante, pantanoso, viscoso e intoxicante Sludge Metal de cerrada e esverdeada nebulosidade, este primeiro passo discográfico de Bum Shelter embarca o ouvinte numa intrigante, mesmérica, caravânica e enfeitiçante digressão pelos umbrosos, fantasmagóricos e pavorosos trilhos da abissal introspecção. De inspiração colhida nos universos de Sleep, Weedeater, Bongzilla, Bell Witch, Pallbearer, Ahab, ShrinebuilderBongripper, Nortt e Ufomammut, a sua monolítica, cataclísmica, narcótica e infernal sonoridade tem a capacidade de nos paralisar, sufocar e soterrar nas profundezas da letargia. De cabeça pesadamente baloiçante, pálpebras caídas sobre um olhar embaciado, narinas dilatadas, respiração travada, semblante esbranquiçado e espírito integralmente sedado, caminhamos sonâmbulos e fascinados pelos territórios encarvoados, brumosos, trevosos e amaldiçoados de ‘Bum Shelter’. Uma vil, umbrosa e irresistível liturgia de preces arremessadas na direcção do profano que comungamos sem qualquer resistência. Mergulhem na vertiginosa fundura desta demoníaca, ácida e psicotrópica negrura, ancorados a uma guitarra inquisidora que hasteia riffs hipnóticos, intensos, sisudos e dramáticos, um baixo musculoso que bafeja linhas obesas, tensas, densas e coesas, uma bateria escaldante de ritmo intempestivo, estrepitoso, vigoroso e altivo, teclados vampíricos, espaciais, pirotécnicos e ritualísticos que exorcizam o Cosmos, e vocais urticantes, bolorentos, cavernosos e guturais de vestes rasgadas, caninos afiados e garras ensanguentadas. São 40 minutos de febril ardência, máxima potência, anestésica sonolência e nociva pestilência que nos desmaiam a lucidez, atestam de embriaguez e anoitecem a alma. Uma atmosfera angustiante, misteriosa, pecaminosa e intimidante – tão ociosa e libertadora quanto revoltosa e opressora – que nos seduz e conduz numa marcha fúnebre de encontro ao lado eclipsado da mente humana.  ‘Bum Shelter’ é um registo nocturno, soturno e licantrópico que deve ser ouvido em noites de Lua cheia. Mumifiquem-se e deitem-se no interior deste sarcófago.

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