Quis o acaso
que, no ano de 2018 e durante a tour europeia da banda australiana Seedy
Jeezus, o guitarrista Lex Waterreus, a baixista Komet Lulu e o
multi-instrumentista Sula Bassana (estes dois então integrantes da banda
germânica Electric Moon) se encontrassem na Alemanha. Desse encontro
resultaria uma intuitiva, reflexiva, descontraída e imaginativa jam session
oxigenada a lisergia, só agora descortinada e apresentada através dos formatos LP
(limitado a uma prensagem 500 cópias), CD (limitado ao fabrico de apenas 300
cópias) e digital com o carimbo discográfico da alemã Sulatron Records. Sob
a designação de Moonseeds, este inesperado (mas simbiótico) power-trio deu as mãos e apontou
os seus instrumentos à imensurável vastidão celestial, viajando pela eterna noite
cósmica, driblando o abraço gravitacional dos astros, trespassando as multicoloridas
poeiras das fantasmagóricas nebulosas e agarrando as rédeas de indomáveis cometas
que cavalgam os desertos astrais. Tendo como suas estrelas orientadoras um lenitivo,
atmosférico e introspectivo Psychedelic Rock e um ventilado, magnético e
matizado Space Rock, a relaxante, absorvente e reconfortante sonoridade
de ‘Moonseeds’ desdobra-se vagarosa e ociosamente num universo
entorpecido, futurista, intimista e anoitecido, libertando o nosso ego,
escancarando as portas da percepção e consagrando a nossa espiritualidade numa
gloriosa ascensão ultraterrestre, deixando em terra o nosso corpo caído,
despido e inanimado. Um poderoso sedativo compartimentado em três longas faixas
de colorida acidez, pesada embriaguez e caleidoscópico psicadelismo. Um vertiginoso
mergulho nas profundezas do universo onírico, soberbamente musicado por uma
guitarra exploratória que se perde e encontra por entre delirantes,
alucinógenos e atordoantes devaneios, um enfeitiçante baixo de reverberação elástica,
hipnótica e pachorrenta, uma bateria minimalista de galope relaxado, pausado e tribalista, teclados melancólicos de transcendentes efeitos sónicos e intrigantes
sirenes cósmicos, e ainda a surpreendente aparição de vocais brumosos, vaporosos
e espectrais que condimentam a ébria madrugada do mais curto dos três temas.
Deixem-se diluir nesta poderosa narcose que nos adormece os sentidos ao repetitivo
e monótono canto das cigarras, e sob a pálida luz das estrelas que chamejam na
intensa negrura do espaço bocejante. São 42 anestésicos minutos que nos tombam as
pesadas pálpebras sobre um olhar temulento, desacelera o ritmo cardíaco e aspira
o ar que respiramos. É pura letargia que cativa e deslumbrante magia que iça as
velas ao sabor da imaginação. Está, assim, desabrochada a primeira (e única?) flor
desta semente sepultada em solo lunar. Uma fantástica odisseia espacial – de afago
sensorial – que merece a construção de novos capítulos.
Links:
➥ Bandcamp
➥ Sulatron Records
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