quarta-feira, 10 de julho de 2024

Review: 🪐 Moonseeds - 'Moonseeds' (2024) 🪐

★★★★

Quis o acaso que, no ano de 2018 e durante a tour europeia da banda australiana Seedy Jeezus, o guitarrista Lex Waterreus, a baixista Komet Lulu e o multi-instrumentista Sula Bassana (estes dois então integrantes da banda germânica Electric Moon) se encontrassem na Alemanha. Desse encontro resultaria uma intuitiva, reflexiva, descontraída e imaginativa jam session oxigenada a lisergia, só agora descortinada e apresentada através dos formatos LP (limitado a uma prensagem 500 cópias), CD (limitado ao fabrico de apenas 300 cópias) e digital com o carimbo discográfico da alemã Sulatron Records. Sob a designação de Moonseeds, este inesperado (mas simbiótico) power-trio deu as mãos e apontou os seus instrumentos à imensurável vastidão celestial, viajando pela eterna noite cósmica, driblando o abraço gravitacional dos astros, trespassando as multicoloridas poeiras das fantasmagóricas nebulosas e agarrando as rédeas de indomáveis cometas que cavalgam os desertos astrais. Tendo como suas estrelas orientadoras um lenitivo, atmosférico e introspectivo Psychedelic Rock e um ventilado, magnético e matizado Space Rock, a relaxante, absorvente e reconfortante sonoridade de ‘Moonseeds’ desdobra-se vagarosa e ociosamente num universo entorpecido, futurista, intimista e anoitecido, libertando o nosso ego, escancarando as portas da percepção e consagrando a nossa espiritualidade numa gloriosa ascensão ultraterrestre, deixando em terra o nosso corpo caído, despido e inanimado. Um poderoso sedativo compartimentado em três longas faixas de colorida acidez, pesada embriaguez e caleidoscópico psicadelismo. Um vertiginoso mergulho nas profundezas do universo onírico, soberbamente musicado por uma guitarra exploratória que se perde e encontra por entre delirantes, alucinógenos e atordoantes devaneios, um enfeitiçante baixo de reverberação elástica, hipnótica e pachorrenta, uma bateria minimalista de galope relaxado, pausado e tribalista, teclados melancólicos de transcendentes efeitos sónicos e intrigantes sirenes cósmicos, e ainda a surpreendente aparição de vocais brumosos, vaporosos e espectrais que condimentam a ébria madrugada do mais curto dos três temas. Deixem-se diluir nesta poderosa narcose que nos adormece os sentidos ao repetitivo e monótono canto das cigarras, e sob a pálida luz das estrelas que chamejam na intensa negrura do espaço bocejante. São 42 anestésicos minutos que nos tombam as pesadas pálpebras sobre um olhar temulento, desacelera o ritmo cardíaco e aspira o ar que respiramos. É pura letargia que cativa e deslumbrante magia que iça as velas ao sabor da imaginação. Está, assim, desabrochada a primeira (e única?) flor desta semente sepultada em solo lunar. Uma fantástica odisseia espacial – de afago sensorial – que merece a construção de novos capítulos.

Links:
 Bandcamp
 Sulatron Records

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